Como
contar uma história de uma vida em poucos parágrafos? Isso é um desafio!
Foi
numa tarde de sábado que eu e Fátima Santos fomos visitar seu Wando Sckudlarek e
dona Jurema, em Porto União. A princípio, seria uma visita rápida para podermos
fotografá-los e ouvir algumas histórias de Marcílio Dias e da Estrada de Ferro.
Lá ficamos a tarde toda e poderíamos ter ficado por muito mais tempo naquela
companhia agradabilíssima que não faltariam boas conversas e risadas.
O Sr.
Wando nasceu em Poço Preto, em 26 de dezembro de 1933, e seguiu os passos do
pai, João, que também era ferroviário *Turmeiro e também barbeiro. Um dia, um cliente
de seu pai, de nome José Monteleve, disse: “Wando porque não estuda para ser Telegrafista?
” De tanto ele lhe falar, ele foi fazer uma carta para poder pedir autorização
para praticar. Trabalhava na empresa Olsen durante o dia para poder praticar à noite.
Fez concurso para Telegrafista, depois Agente de Estação, Chefe de Estação e se
aposentou como Supervisor.
Wando
Sckudlarek, morava na casa de escamas em Marcílio Dias que foi comprada, por
seu pai, do senhor Ernesto Todt em 1947. Segundo Sckudlarek, o antigo
proprietário era um alemão que tinha um açougue. O pai de Wando utilizava o
porão da residência para fabricar deliciosos vinhos, que eram feitos em
vasilhames de 40 litros. Os garrafões eram comprados na cervejaria do Loeffler.
Durante 44 dias era feita a purificação da bebida, para que pudessem
deixá-lo envelhecer. Nas vigas de madeira eram marcados o dia, mês e ano da
fabricação. “Para um litro de vinho eram utilizados 7
quilos de uva. Meu amigo Mário Aguiar dizia que o vinho era um remédio”,( risos).
Com certeza era um Santo remédio pois seu Mário viveu até os 95 anos.
Casado
com Dona Jurema há 58 anos e juntos tiveram três filhos: Wilson, Wilmar e Walquiria.
A família morou na casa da Estação Ferroviária em Marcílio Dias de 1972 a 1978.
O sogro também trabalhou na Estrada de Ferro: “Desde pequena morando na beira
dos trilhos do trem”, afirmou D. Jurema.
Nessa época, fez curso de relojoeiro e
fotografia. Comprou sua primeira máquina fotográfica em 1955, onde registrou
belas imagens entre festas, retratos 3x4, paisagens e fotos com os antigos
amigos de profissão. O primeiro casamento que fotografou foi de Elen Pangratz.
Logo após a cerimônia, seu Wando chegou em casa e foi revelar os negativos.
“Mandei a Jurema fazer o fogo no fogão à lenha, enquanto isso revelava as
amostras de fotos que seriam escolhidas, posteriormente, pela noiva. Tirei as
argolas do fogão, fiquei com os retratos na mão balançando até secarem. No
mesmo dia entreguei para os noivos que ficaram espantados com a rapidez.
Naquela época tudo era mais difícil, e às vezes demorava meses para um fotógrafo
entregar as provinhas”, relatou. Na empresa Olsen fazia as fotos 3x4, colocava
quatro funcionários, um ao lado do outro, para que pudesse economizar o filme.
Também arrumava os relógios, trocando os rubis e fazendo pequenos reparos,
quando necessários. Para os conhecidos fazia até a instalação dos relógios de
paredes, conhecidos como cucos.
Na
sala de espera da estação, durante à noite, ele tinha aulas com a professora
Aline Diettrich, que ensinava seu Wando e outros alunos do distrito para poderem
concluir o ginásio (atual ensino médio). Depois de concluir os estudos, seu
Sckudlarek passou no vestibular para administração, porém optou por deixar seu
filho mais velho iniciar o curso, pois havia sido aprovado em Joinville, graças
à dedicação do pai que lhe deu as aulas de Matemática.
Na Ferrovia,
fazia um trabalho paralelo a pedido da Rede, ele tinha de medir o nível de
chuvas na região “Tínhamos o pluviômetro na estação de Marcílio Dias, assim era
possível saber quanto choveu em um dia. Se tinha dado raio, trovão ou vento, eu
marcava também”, lembrou.
Um
dia seu Wando teve que pegar uma rabeira de Trem. “O maquinista tinha dormido,
eu pulei no vagão em movimento e fui até a cabine para acordá-lo”, relembrou. A
Rede fornecia aos agentes, bombinhas que eram colocadas na linha durante o
trajeto para que o maquinista não dormisse, ou se dormisse, acordasse com o
barulho.
Na
enchente de 1983, ele estava trabalhando em Erval do Oeste, a água entrou com
tanta força na estação que chegou a tirar os vagões dos trilhos. Além disso, os
ferroviários haviam colocado suas mudanças dentro dos compartimentos do trem,
mesmo assim, não conseguiram salvar nada. A água invadiu tudo.
A despedida do Trem misto foi feita com muito
carinho pelos companheiros. “Foi feito faixa e colocado bombinhas no trilho
para nos despedirmos o último trem de passageiros na região", falou.
Em
1978, foi transferido para Porto União como Supervisor de Estação, se aposentou
com 54 anos de profissão, mas ainda sente falta dos velhos tempos. “A vida
inteira na linha do trem, tenho saudade. Fiz muitos amigos durante esses anos.
Quando vejo tudo abandonado, dá uma pena disso tudo. Fico muito triste, a
ferrovia era o maior patrimônio do Brasil, acabaram com a estrada de ferro”,
desabafou.
Atualmente,
ele e esposa vivem em Porto União. Dona Jurema é voluntária da Rede Feminina de
Combate ao Câncer, Seu Wando Mestre Harmonia Maçônico. Há dois anos teve um
AVC, ficou em uma cadeira de rodas. Porém isso não deixou que ele desanimasse.
Aos 84 anos com muita disposição e determinação, voltou a andar e as atividades
do dia a dia. Faz exercícios regulares, dança com a esposa e tem um hobby, um
estúdio de música em sua casa. Ele passa as músicas dos discos de vinil para o
pen drive. Para quem quer chegar à terceira idade com tudo em cima, seu Wando é
a prova que não devemos nos permitir de deixar de viver!
*Que
cuidava da manutenção dos trilhos.
Tendo residido por oito anos em Caçador e interessado na história dessa região, gostaria de parabenizar as pessoas que tiveram a iniciativa dessa entrevista. Pessoas como o sr. Wando são a história viva desses locais...
ResponderExcluirNilson Rodrigues
Agradecemos o elogio! Realmente conversar com ele, foi uma aula de história, de cultura, de superação
Excluir