"Meus avós
maternos João Sckdlarek e Maria Drevnoska Sckdlarek vieram de Iratí, PR., pois
foi nessa cidade que todos os poloneses vieram durante a 2ª guerra mundial.
Ele mudou-se
para Marcílio Dias, onde foi trabalhar na estrada de ferro, trabalho esse muito
suado com dormentes, cuidando dos trilhos de trem. Eram muito pobres, porém
trabalhadores, e além disso trabalhava na roça para complementar o salário da
família.
Tinham três
filhos. A mais velha minha mãe, Clara Sckudlarek, meu tio Wando Sckudlarek e
bem depois nasceu minha tia Alzira Sckudlarek.
Até aí
moravam numa casinha pequena , mas assim que minha mãe atingiu uns 15 anos,
começou a trabalhar na fábrica de parquet Wiegando Olsen, onde cortava aqueles tacos para
assoalho.
Foi então
com o meu avô trabalhando e minha mãe Clara Sckudalerk contribuindo com todo
salário que ganhava, compraram aquela casa, a casa de escamas. Minha mãe contava que foi muito
trabalhado para deixá-la mais bonita e do jeitinho que queriam.
Lembro tanto dela porque passei parte da minha
infância ali. Eu fiz o jardim da infância naquela escola, com a professora
Iracema, da qual nunca esquecerei. Lá aprendi a fazer meus primeiros bordados e
eu tinha somente 6 anos.
Morei
lá um ano da minha vida, meu pai estava construindo em Canoinhas e para
pouparmos, meu avô fez questão que ficássemos lá.
Minha mãe
saiu para casar com 18 anos com José Prim, meu pai. Eu tinha muito aconchego
com meu avô, ao qual eu adorava e tinha a maior admiração. Aliás, meu avô era
conhecido por João Barbeiro, pois foi à Curitiba, fez curso de corte de cabelo
masculino e barbas com navalha.
Lembro como
hoje, todos os fins de semana, a barbearia estava lotada, e eu sempre varrendo
os cabelos do chão para ajudá-lo. Durante a semana ele trabalhava na Rede Ferroviária,
aí já tinha sido promovido, passando em 2º lugar em SC.
Todas as
minhas férias, tanto as de julho como as de dezembro a março, eram passadas ao
lado dos meus avós e tios. Fui a primeira neta, recebi todo o amor do mundo, tanto dos meus avós como dos meus tios.
Havia um porão que era a adega do meu avô. Ele fazia vinhos deliciosos com frutas do mesmo pomar. Fazia vinho de todas as frutas: uvas brancas, pretas... Ele colocava data em todas as garrafas. No porão ainda tem uma inscrição com data feita por ele.
Eu tinha um
quarto no sótão, onde dormia ao lado da minha tia Alzira , mãe da Aurea
e Edna Piermann. Era muitíssimo divertido, minha tia era pra cima, inventava
brincadeira mil, assim como meu tio Wando, que na época, além de trabalhar na
Rede Ferroviária, na Estação como telégrafo, era o fotógrafo de Marcílio Dias e
também consertava relógios.
Lembro como se fosse hoje. Eu ficava ao lado
dele vendo-o fazer os consertos, e então
ele me disse: Quer ter um relógio? Eu disse. Claro tio, eu quero. Na época eu
ainda
não estava
na escola e então ele me fez primeiro aprender a tabuada, pra somente então
depois me dar um relógio. Quando entrei para a escola no Sagrado Coração de
Jesus em Canoinhas, eu era a única menina que já sabia tabuada e também ver
horas.
Outra
influência do meu tio foi me incentivar a leitura e a boa música. Logo que eu
atingi a idade de 9 anos fui estudar acordeon e posteriormente piano, com a
professora Clara Sheneider, muito rigorosa.
Quando eu já
sabia tocar, todos os nossos fins de semana que sempre foram naquela casa,
regada a muita comida gostosa, piadas e muita diversão, eu comecei a tocar para
a família.
Lembro que o
terreno era muito grande, havia pomares com todos os tipos de frutas de cada
época. Verduras, legumes, tudo era plantado lá pelo meu avô. Ainda lembro do
cheirinho gostoso da casa, do chão brilhando, da dispensa lotada de guloseimas.
Por isso não tem sido fácil pra mim, visitar aquele lugar, sabendo que hoje
todos já não vivem mais. Minha irmã Eliane Regina Prim, Wilson Sckdlarek,
Wilmar Sckdlarek também conviveram lá, mas não de forma tão presente como eu,
que passava todas as férias. A Áurea e a Edna, brincaram muito por lá também
fazendo peraltices.
Bem, vou para o finalmente, para onde não
gostaria de ir. Com a morte da minha avó, meu avô entrou em depressão, e daí
como o tio Wando já morava em Porto União, foi para lá morar com eles, mas
antes disso,
resolveu
fazer a partilha da casa. O pai da Áurea que morava anexo ao terreno da mesma,
fez um acordo, onde ele compraria a nossa parte e ficaria com a casa.
Só que mal
sabíamos que o pior aconteceria. O Euzébio Piermann, faleceu e minha tia entrou
em depressão e, nessa época as meninas estudavam e trabalhavam em
Joinville, porque Canoinhas era precário de trabalho. Minha tia Alzira Piermann
acabou por vender a casa e foi morar com os filhos.
Então fiquei
muito feliz, quando eu soube que a casa seria tombada como patrimônio público, me dando a esperança que seria restaurada, conservada e
contaria uma história de vida muito linda, onde o amor fluía de todos os lados.
Eis a história de uma casa, da qual levarei na memória até a minha partida desse
planeta!"
Foto da garagem da casa de meus avós onde fazíamos as festas está a Tia Alzira e o tio Euzébio Piermann com o caçula Edson José Pirmann!! |
Casa adquirida pela família do João Barbeiro em 1946 aproximadamente. |
Atuais proprietários da casa de escamas: Marcelo e Karla Pazda. |
Neve em julho de 2013. Acervo dos atuais proprietários. |
É uma história muito interessante com todos os detalhes. Meus avós também vieram da Polonia na época da guerra, portanto foi difícil para todos daquela época, onde não tinham as coisas que eles precisavam. Parabéns , linda história e casa também.
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