terça-feira, 5 de setembro de 2017

Os 100 anos da Escola Alemã

2017 marca o primeiro centenário da fundação da escola que pretendia exaltar a cultura alemã em Canoinhas; na época a escola que seria sucedida pela Manoel da Silva Quadros se situava em uma colônia alemã fundada por Bernardo Olsen.

 “Willkommen!”
   Deve ter sido assim, com um caloroso “bem-vindo”, em alemão, que o professor Georg Pohl recebeu os primeiros alunos da “Escola Alemã da Colônia São Bernardo”, Estação de Canoinhas, no dia 1º de fevereiro de 1917. Em bom alemão, a “DeutschenSchulvereins in der Kolonie ‘São Bernardo’, Station Canoinhas” já tinha sido criada dois meses antes, em 17 de dezembro de 1916, e tinha como objetivo disseminar a cultura, a língua e o sistema educacional alemães. “A escola integrava de certa forma um projeto macro, que as autoridades alemãs chamavam de pangermanismo, que previa a preservação da educação e da cultura germânica entre os colonos”, anotou no seu minucioso trabalho de pesquisa sobre a escola, o hoje professor Antonio Dias Mafra. Ele foi aluno da Escola Manoel da Silva Quadros, construída em 1952, no mesmo espaço ocupado pela Escola Alemã, já no distrito de Marcílio Dias.
 
PROBLEMA

    Quem trabalhou pela fundação da escola alemã em 1916 foi o também fundador da colônia que daria origem ao distrito canoinhense de Marcílio Dias. Bernardo Olsen aparece nas atas pesquisadas por Mafra, como um dos fundadores da sociedade que tinha ainda figuras ilustres como August Nürnberg Senior, GermannRaabe, GermannHeiden, Franz Mossmann, Wilhelm Melkert Júnior, Karl Wiese, Johann Wiese, August Nürnberg Júnior, EmilFallgather, Karl Fallgather, Albert Voigt, Karl Fragg, João Pfleger, João (ilegível) e Pedro Timótheo Hacke. Como uma entidade particular, os pais dos alunos deveriam pagar mensalidades para manter a escola. A mensalidade seria de mil réis para filhos de sócios e 2 mil réis para filhos de não-sócios.
    A primeira escola não estava localizada entre as igrejas Católica e Luterana como sua sucessora, mas próxima da estação, numa casa colocada a disposição por Bernardo Olsen, para funcionar provisoriamente até que o prédio novo em estilo enxaimel ficasse pronto.
No primeiro ano de funcionamento da escola, os fundadores se depararam com um problema. Em outubro de 1917, após o torpedeamento do navio mercante brasileiro Macao, o Brasil declarou guerra à Alemanha. Por esse motivo, o governador catarinense proibiu a publicação de jornais escritos em idioma alemão e ordenou o fechamento de todas as escolas que não ensinassem somente em português.
Era contratar um professor que ensinasse em português ou fechar a escola. Optando pela primeira solução, a sociedade empregou o professor João Moeller. Quem teve enormes dificuldades foram os alunos que falavam alemão em casa e na rua e tinham que aprender a falar e a escrever em português na Escola, que teve de se enquadrar dentro das normas da Direção da Educação Pública do Estado. Seu funcionamento passou a ser fiscalizado regularmente pelas autoridades brasileiras. A Escola foi visitada no início da década de 1920 por Pedro Lopes Vieira, tenente da Força Pública de Santa Catarina, que destacou o esforço e a capacidade do professor Moeller em ensinar aos alunos na língua pátria. Em 1922 quem visitou a escola foi o próprio governador, José Boiteux, que deflagrou a aprovação de novo estatuto da escola, dessa vez, em língua portuguesa.
Em 1937 foi fundada uma escola pública próximo da Escola Alemã, o que provocou desfalque no corpo discente da pioneira.

EX-ALUNOS
     Em 1939, o ex-prefeito de Canoinhas, Alcides Schumacher, estudou o primeiro ano do primário na escola que de alemã só tinha o título. “Lembro de pouca coisa, mas me recordo que aprendíamos em português”, conta. Seu professor foi um dos sucessores de Moeller, apenas chamado de Rother pelo ex-prefeito.Moeller lecionou por 15 anos na escola. O motivo do seu afastamento ocorreu em virtude da resolução da Assembleia em setembro de 1934, autorizando-o a castigar fisicamente os alunos. A resolução não foi aprovada por todos os pais e o professor Jorge Zimmermann foi chamado às pressas para assumir o cargo deixado por Moeller.
Em 1940 o estabelecimento recebeu nova denominação, passando a ser chamada de “Escola Desdobrada Particular São Bernardo”, já pertencente ao distrito de Marcílio Dias. Arnaldo Mews, que viria a ser aluno, professor e diretor da Escola Manoel da Silva Quadros, conta que ouvia do pai historias da Escola Alemã, como a de um aluno que morava no Parado e trazia lenha nas costas para aquecer a lareira que havia na sala de aula. “O seu Adolpho Dittrich (pai da médica Adair – leia texto no final desta reportagem) marcava no calendário as geadas. Em um desses meses de julho não houve um dia sequer que não geasse”, conta para ilustrar o quão frio era naquela época.
 
Mews conta que a avaliação final dos alunos não era feita pelo professor, mas por figura eminente da sociedade profunda conhecedora das temáticas abordadas em aula, que fazia um teste prático do qual dependia o futuro escolar dos alunos.
 
     Em 1942, no auge da Segunda Guerra Mundial, a escola foi fechadadepois da entrada do Brasil na Guerra contra a Alemanha. Lei federal proibia reuniões, principalmente de descendentes de alemães. A Escola Particular São Bernardo foi fechada em 30 de abril de 1942, apesar da Sociedade Escolar, legalmente, ainda continuar existindo.  Os alunos da segunda e terceira séries foram transferidos para a Escola Estadual e os alunos da 4ª série da Escola particular, continuaram estudando no ano de 1942, sob a regência da professora Aline T. Dittrich.
    Criada em 1952 como uma nova escola, no mesmo terreno, a Manoel da Silva Quadros teve na sua obra tijolos resultantes da demolição da Escola Alemã, conta Mews, que entre direção e sala de aula tem sua história ligada à escola por 37 anos. Aposentado, hoje ainda visita os ex-colegas e tenta contribuir como pode com a escola.
 
TROCA DE PATRONOS
     Mews tem certeza que o nome atual da escola foi um equívoco. Manoel da Silva Quadros era professor da primeira escola de Canoinhas, Ana Cidade. Seria natural, portanto, que com a construção do novo prédio a escola passasse a ter seu nome. No entanto, de Ana Cidade foi batizada como Almirante Barroso. Às gargalhadas, Mews conta uma passagem curiosa da vida de Quadros, contemporâneo da Guerra do Contestado. “Ele gostava de tocar corneta e certo dia bebeu um pouco demais e começou a tocar a corneta no centro da cidade, o que irritou os militares que por aqui estavam (para combater os revoltosos). Para eles aquilo era uma ofensa”.
 Para Mews, a escola deveria se chamar Rodolfo Zipperer, já que este sim era de Marcílio Dias. Zipperer, no entanto, é patrono de escola no distrito do Campo d’Água Verde.  “Claro que trocaram os papéis”, afirma Mews ao cogitar que houve troca involuntária de nomes entre as duas escolas.
 
COMEMORAÇÃO
     Com ajuda de levantamento iconográfico feito pela professora Fátima Santos e pela assistente pedagógica Lucimara de Paula Cordeiro, a escola está resgatando a história centenária. Fátima estudou e lecionou na escola. Hoje ela é responsável por alimentar o blog que resgata a história e retrata o  cotidiano da Manoel da Silva Quadros. As professoras contam que muito do material resgatado vem dos moradores e ex-alunos.
   Neste sábado, 2, aconteceu a comemoração dos 100 anos, com apresentações artísticas preparadas por professores e alunos celebrando o centenário, que na verdade vem sendo comemorado desde o começo do ano com estudos, gincana e apresentações internamente. A diretora da escola que hoje tem 240 alunos estudando na sede e na extensão do Rio do Pinho, Siomara Nunes, explica que a ideia é formar um memorial dos 100 da escola até o fim do ano.
 Escrito pelo Jornalista Edinei Wassoaski do Portal JMais
Anos 50 provavelmente.



1974

Diretora Avani com professoras. Anos 70.

 
Depoimento do ex-aluno WilsonSckudlarek:
 
"Parabéns a nossa eterna escola que nos recebeu de braços abertos e onde demos os primeiros passos rumo ao mundo do conhecimento! Em 66 fui aluno no jardim cuja professora era a dona Iracema. Em 67 estudei no prézinho com a profa dona Izane e no primeiro ano fui aluno da prof Marlene Ritter. Estudávamos em uma cartilha onde tinha personagens como Zazá e Zezé e as historinhas nos ajudaram a aprender o alfabeto. Todos os alunos do 1o ano tinham que escrever a lápis com uma borrachinha na ponta, em caderno de caligrafia. Os alunos mais humildes ao invés da borracha apagavam seus cadernos com miolo de pão. Canetas só eram permitidas a partir do segundo ano. Tinha que ser aquela caneta BIC amarela escrita fina. Em 69 no 2o ano fui aluno da profa Lucilda Metzger, em 70 no 3o ano minha profa foi a dona Ana Maria Letzko e no 4o ano em 71 fui aluno da dona Odete Nader. Nossa diretora era a querida e saudosa dona Avani Dittrich e o inspetor regional de educação era o sr Licurgo Aleixo Nora. Quando ele vinha visitar a escola morríamos de medo, pois era um homem muito sério. "Era o INSPETOR" que vinha de Mafra nos fiscalizar. Em datas comemorativas, os alunos eram perfilados no pátio para declamarem poesias e versinhos rigorosamente ensaiados sob a coordenação das dedicadas professoras e sob a admiração dos nossos orgulhosos pais. Lembro também da senhorinha chamada Maria, que era a zeladora e encarregada de tocar um sininho de início e final da aulas. As salas de aula brilhavam enceradas e para conservar a limpeza, tinhamos que deixar os calçados (conga) fora sala. Para não passarmos frio nos pés, nós mesmos fabricávamos chinelos de papelão recobertos por tecido, nas aulas de educação artística. Sempre ao final do ano havia uma exposição dos trabalhos artisticos dos alunos que consistiam em sua maioria em artesanatos feitos em barro e peças de lâmina de compensado serradas no formato de animais e flores e posteriormente pintados. Me lembro de ter feito um "patinho" e um "ratinho" chamado "Topo Gigio"(personagem de historinhas infantis. A escola exercia também um papel educador junto as familias dos alunos, fornecendo informações sobre higiene. Um exemplo disso era um mini projeto contido nas cartilhas, onde haviam desenhos sobre a construção de poços e sanitários (privadas). Lá continham informações sobre distâncias e elevações para evitar contaminações da agua. Na sala da diretora tinha um livro de ouro e um livro negro para assinaturas dos alunos. No primeiro assinavam os alunos com algum mérito de destaque, enquanto que no segundo assinavam aqueles que cometiam deslizes disciplinares. Para levar os materiais para a aula usávamos um "bornal" que era uma espécie de sacolinha feita de pano feita pelas nossas mães. No jardim usávamos uma lancheira de plástico onde cabiam fatias de pão e uma garrafinha para agua ou leite. Lembro da minha primeira pasta escolar, preta e com as inscrições: "Você sabe o que é botânica? É a ciência que estuda os vegetais!!!" Tantas lembranças..... Um dia farei um breve relato das "artes" que aprontávamos nesta época boa."

 

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