quarta-feira, 14 de novembro de 2012

03-Geografia e a Economia


            A Colônia São Bernardo, atual Distrito de Marcilio Dias, foi instalada no  início do século XX, no norte de Santa Catarina, no município de Santa Cruz de Canoinhas, às margens da estrada de ferro, ramal São Francisco da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande –EFSPRG, nas proximidades da confluência do rio Canoinhas com o rio Negro. 
            A geografia da região da Colônia apresenta-se em unidades distintas. As terras que margeiam o Rio Canoinhas, Rio Negro, ao sul da estrada de ferro, são formadas por uma grande planície conhecida como várzea e está sujeita à inundação nos períodos de chuvas prolongadas. As várzeas surgiram como resultado de um processo de erosão e sedimentação de solos mais levados. 
            Segundo Prates, (1989) “É uma área sedimentar aluvional, formada ao longo do tempo por materiais sólidos trazidos pelos rios Canoinhas e Negro em depósitos sucessivos, que nivelaram o solo, num processo lento, iniciado há mais de um milhão de anos”.
            Os terrenos localizados ao norte da ferrovia, são mais elevados e  dobrados, com sucessão de elevações com altura variando entre 20 e 150 metros, constituídas por rochas sedimentares dispostas em camadas quase horizontais. São visíveis também, os folhelhos, vulgarmente chamados de "cascalhos" e em alguns pontos notar-se o afloramento do xisto betuminoso.
             Para Prates, (1989), “O processo de formação desse tipo de relevo ocorreu entre 350 a 270 milhões de anos”.
             Nessa mesma área verifica-se também, a presença de solos basálticos, resultantes de atividades vulcânicas que ocorreram na era mesozoica, há 135 milhões de anos. Em vários pontos afloram rochas desse período, estando bem visível na estrada que dá acesso a localidade de Capão do Erval (subida da pedreira).
            A flora é constituída por remanescentes da floresta de Araucária, com árvores aciculifoliadas e latifoliadas. Em sua estratificação destaca-se no estrato arbóreo emergente, o pinheiro do Paraná (araucária angustifólia); no extrato inferior, aparecem as canelas, a imbuia, a bracatinga, o angico, o cedro...; no extrato das arvoretas destaca-se a erva-mate, o leiteiro, o xaxim, a taquara...; Prates, (1989).
            Esse tipo de floresta, ofereceu aos primeiros colonizadores espécies de considerável valor econômico como o pinheiro, a imbuia, o cedro, a peroba, a bracatinga, a canela, a erva-mate, entre outras. As madeiras foram utilizadas pelas madeireiras da região e logo as de melhor qualidade desapareceram, já que não havia preocupação com reflorestamento. Uma espécie de grande valor que permaneceu foi a erva-mate, e se transformou na grande riqueza regional por várias décadas.
            À medida que a floresta foi derrubada, os colonizadores ocupavam o espaço com suas roças. Na várzea, terras que margeiam os rios Canoinhas e Rio Negro, o solo sedimentar é muito fértil, propício para a agricultura, mas a possibilidade de enchentes, transforma a várzea numa área de risco.
            A economia local em princípios do século XX tinha como base a agricultura com produção tradicional, voltada para o consumo interno e excedente para o mercado. Produzia-se: milho, feijão, batata inglesa, trigo, hortaliças: criação de suínos para carne e banha; criação de gado para a carne, leite e manteiga; criação de cavalos para tração de carroças, arados, cavalgadas...
            Quem não possuía o próprio terreno agrícola, trabalhava como empregado, na rede ferroviária, nas serrarias, como tarefeiro na roça de algum colono, ou na extração e beneficiamento da erva mate.
            O comércio, no início do século XX,  era monopolizado pelo armazém de Bernardo Olsen, que recebia os produtos dos atacadistas de Joinville e transferia aos residentes, colonos ou não, com venda à vista, por escambo ou fiado para pagar no pagamento ou na safra. Difundiu-se na região a caderneta, onde eram anotadas as mercadorias levadas, para serem pagas no final do mês. Esse grande empresário também exportava os produtos agrícolas excedentes da colônia para os centros consumidores de Joinville e Curitiba, bem como madeiras e principalmente a erva-mate. (1)

 

(1).A foto acima,foi publicada no álbum histórico do centenário de Joinville, em artigo assinado por Plácido Olimpio de Oliveira,em 1951. Mostra a forma primitiva de extração e secagem da erva-mate no interior dos ervais no planalto catarinense. É interessante a grafia da época da foto – Carijó. O equipamento para a secagem da erva é chamado de carijo, sem acento agudo no o. Secagem com dois c. Herva-Matte, hoje escrita como erva-mate. 

Texto de Antonio Dias Mafra, Coordenador e Professor do curso de
História-UnC Mafra.
 

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