quarta-feira, 8 de junho de 2022

Há 46 anos, Garrincha, o anjo das pernas tortas, jogava em Canoinhas

   Há 46 anos, em 25 de abril de 1976, pisaram em solo canoinhense dois dos principais protagonistas da conquista da primeira conquista de uma Copa do Mundo vencida pelo Brasil. Os craques Garrincha e Djalma Santos estiveram por aqui quando já estavam fora das divisões profissionais, jogando em um time de elite chamado Milionários, que corria o Brasil jogando contra times locais, atraindo público pela fama de seus jogadores. O público canoinhense, por sinal, foi recorde. Quem lembrava exatamente o público pagante era o mentor da ideia de trazer os craques para Canoinhas. Orestes Golanovski, hoje falecido, concedeu uma entrevista ao jornal Correio do Norte em 2008, quando disse que não esquecia o número – 4.230 pagantes no Estádio Ditão. O público foi tão grande que foi necessário colocar 600 cadeiras na pista de atletismo do estádio, já que as arquibancadas estavam superlotadas. A visão privilegiada, obviamente, tinha um preço mais salgado. A arrecadação dobrou o custo da contratação dos Milionários e deu alívio a Golanovski que, como presidente da Liga Esportiva Canoinhense (LEC), fez uma peregrinação entre amantes do esporte para conseguir financiamento a fim de custear o jogo.
 SONHO
Ingo Siems, Garrincha e Almiro Lisboa (Negão).
Time do Milionário.
Acervo de Roseli Lisboa.


    Golanovski contou que tudo começou com o sonho de ver em solo canoinhense o anjo das pernas tortas, como era conhecido Garrincha. A oportunidade surgiu quando Golanovski corria cidades da região se apresentando como malabarista, outra façanha do maior doador de sangue do mundo. Irineu Reinert, apresentador de um programa da TV Educativa de São Paulo (SP), convidou Golanovski para se apresentar na Capital paulista. Capaz de equilibrar escadas no queixo, Golanovski partiu para São Paulo com uma ideia fixa: contatar o Milionários para uma exibição em Canoinhas. Foi em um bar ao lado do teatro Bandeirantes que por intermédio de um amigo, Golanovski chegou ao empresário do Milionários, conhecido como Toledo. Os 30 mil cruzeiros pela contratação, com metade pago adiantado, assustou Golanovski a princípio, mas não o intimidou. De volta a Canoinhas, conseguiu levantar o dinheiro e fez uma ampla divulgação da partida que seria contra a seleção de Canoinhas. “No dia do jogo, havia carros estacionados até o Planalto Hotel”, contou Golanovski. 

 O JOGO
Garrincha (C) com equipe formada por uma seleção da LEC, que jogou contra os Milionários no Ditão


 Quem imagina que a equipe formada como uma seleção da Liga Esportiva Canoinhense levou uma sonora goleada do time de Garrincha e Djalma Santos, se engana. Garrincha abriu o placar com um gol de falta. Pouco depois, Nego Borges, da equipe canoinhense, empatou a partida. O Milionários só conseguiu desempatar aos 45 minutos do segundo tempo, com um gol de cabeça de Eurides. Dá pra imaginar final mais emocionante?. “Nunca vi coisa igual”, dizia Golanovski.
Autoridades com o jogador Garrincha. Acervo: Fernando Tokarski


 LEIA COMO O JORNAL CORREIO DO NORTE DESCREVEU O JOGO EM MAIO DE 1976: “Muitas fotografias e autógrafos. marcaram a presença dos craques do passado em nossa cidade na tarde do último domingo (25/4), em mais uma feliz promoção da Liga Esportiva Canoinhense, que contou com a colaboração não só dos canoinhenses, mas de todo o Norte Catarinense, principalmente de São Bento e Rio Negrinho, num dia que deverá ficar na história do esporte canoinhense, que teve o Estádio Municipal «Benedito Therézío de Carvalho Junior», quase todo tomado pelo grande público que foi ver, conhecer e aplaudir Garrincha, Djalma Santos, Barbozinha e outros. O aguardado encontro entre o Milionários Futebol Clube e a Seleção de nossa cidade, teve início às 16:10′ horas e logo aos 3 minutos aconteceu o que o torcedor queria ver: o gol de Mané Garrincha. A defesa canoinhense cometeu uma falta pelo setor esquerdo da grande área e o mais famoso ponteiro do mundo, numa sensacional cobrança, inaugurou o placar no Ditão. Aos poucos o quadro local subia de produção e aos 7 minutos Paulinho finalizou com grande perigo para o arco de Barbozinha. Aos 10 minutos, num levantamento de Valdir, Aderbal, de cabeça, obrigou o arqueiro adversário a praticar ótima defesa. Aos 25 minutos, Borges, também cobrando com perfeição uma falta, estufou a rede de Barbosinha, que não acreditou na, capacidade do craque canoinhense, mandou desfazer a barreira e acabou sofrendo o tento de empate. Aos 27 minutos, Kalempa praticou uma boa defesa num arremate de Tupanzinho. Aos 30, foi a vez de Renato por outra vez em perigo a defesa Milionária. Aos 40 minutos, Garrincha cobrou mais uma falta, com perigo para a meta de Kalempa. Em seguida, foi a vez de Barbozinha que de ponta de dedo, desviou um chute do ponteiro Ingo e no final da primeira fase, Renato bateu outra falta que raspou a trave de Barbosa. Terminou assim a fase inicial com um jogo muito movimentado e com placar de 1 a 1. Os Milionários, que tiveram um bom, ritmo no 1º tempo, não mais conseguiram na fase final e a Seleção Canoinhense dominou a etapa complementar quando teve chances incríveis de chegar à vitória. E, aos 43 minutos, aconteceu o que ninguém esperava. Osvaldo, aproveitando um cruzamento de Rildo, marcou, de cabeça, o gol da vitória, num resultado injusto para as nossas cores. Mas futebol é isso aí. O quadro canoinhense formou com: Kalempa (Paulo); Lisboa (Mário), Borges, Julio e Ivan (Vilinho); BranqueIa e Paulinho (Roger); Ingo, Valdir (Jaime), Aderbal (Kolinha) e Renato. O Milionários venceu com Barbozinha (Renato); Djalma Santos, Tarciso, Oreco e Rildo; Capitão e Tupanzinho (Pires); Garrincha (Feitiço), Paulo Borges (Gilberto), Osvaldo e Robson. A arbitragem esteve a cargo de Mário Müller, que entrou na onda dos veteranos e acabou prejudicando a nossa Seleção. Os auxiliares foram Sadi dos Santos e Lauro Oobrochinski. A renda foi excelente, ultrapassando a casa de Cr$ 60.000,00.” 

Publicação do Portal JMais

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