quinta-feira, 22 de junho de 2017

Memórias de uma mulher de ferroviário

   Chamo-me Irene Weber Chichowicz. Nasci no dia 3 de julho de 1939 na localidade de General Osório, município de Mafra. Vou contar um pouco da minha infância, enquanto morei em General Osório. Éramos em sete irmãos, um faleceu. Cinco mulheres e dois homens. Eu sou a primeira da turma.. Meus amados pais já faleceram. Meu pai, de origem alemã, era muito batalhador. Muitas vezes, trabalhava à noite toda pra ganhar uns trocados a mais e não deixar nada faltar em casa. Minha mãe, do lar mas, também uma batalhadora. Costurava as nossas roupas sem nunca ter feito um curso de costura. Meus pais, plantavam roça, criavam porcos e galinhas. Eu, como filha mais velha, não tinha muito tempo para brincar, tinha meus irmãos para cuidar. Aos domingos, meu pai ia para a roça plantar milho, feijão e, sempre me levava junto para ajudar. Era difícil mas, a gente não reclamava, era um tempo bom, dávamos valor a tudo isso. Nosso divertimento aos domingos era a domingueira e a passagem do trem de passageiros que, esperávamos sobre o barranco que tinha antes da estação.
O trem passava duas vezes, um que vinha de manhã de Porto União e o da tarde que vinha de Mafra. 
     Fiquei em General Osório até os 12 ou 13 anos. Nasci lá, fiz a Primeira Comunhão e estudei até o 4º ano. O Zézo (meu futuro marido então) também estudava na mesma escola. Nas horas de folga , ele ajudava o pai que era maquinista de máquina tocada a lenha em uma firma: Firma Pigatto. Naquela época, menor podia trabalhar. Sua mãe, de origem polonesa, não dava folga, dizia que era pra não criar malandro. Era ele que puxava a lenha para o pai num carrinho de mão. Não lembro quanto tempo ele ajudou o pai, porque depois, sua mãe arrumou pra ele trabalhar na estação ferroviária para aprender e treinar morse (telegrafia).
       Eu não lembro quantos anos eu tinha, quando uma tia, irmã da minha mãe pediu para meu pai para me levar para Marechal Mallet para fazer o ginásio. Meu pai nem perguntou se eu queria ir ou não. Minha tia e também madrinha, prometeu o mundo e o fundo e eu tive que ir contra minha vontade.
Eu lembro quando meu Vô, pai da minha mãe veio me buscar. Nunca chorei tanto na minha vida. Eu nunca tinha saído de casa e não queria ficar longe da minha mãe e dos meus irmãos. Então, o que eu fiz: me fechei na patente (hoje banheiro). Não adiantou! Ouvi o trem apitando antes do túnel e tive esperanças de perdê-lo. No final, tive que partir chorando, aliás, chorei até Porto União. Teve um senhor, que sentou no outro banco do vagão, de segunda, bancos duros de madeira e, perguntou pro meu avô: "Por que essa menina chora tanto?" Nem lembro o que meu avô respondeu. O pior, foi, quando meu avô me mandou comer. Naquela época, tinha que levar marmita. Minha mãe matou um frango e fez uma farofa, colocou numa tigela e amarrou com um pano. Tive que comer a farofa e "empurrar" com água. O trem chegava em porto União às 22 ou 23 horas e, o resto da noite a gente ficava na estação, numa sala de espera, esperando o misto que saia às 6 horas para Mallet.
Chegando em Mallet, meu avô me levou pra casa da minha tia e, eu ficava só pensando: "Ahhh se eu pudesse fugir!"
Neste mesmo dia, fui conhecer a escola, muito diferente da escolinha de General Osório. Eu só tinha até o 4º ano, precisava prestar exame pra poder entrar no primeiro ano ginasial. Adivinhem!!! Reprovei feio! Tive que repetir o 4º ano. Tive que estudar muito e me preparar para o exame de admissão. E, finalmente passei. Fiquei dois anos sem poder visitar meus pais e irmãos. Pra encurtar um pouco a história, eu fiquei quatro anos em Mallet. Só fui uma ou duas vezes pra casa quando meu pai foi me buscar. Sabia que teria que voltar e eu tinha que obedecer e a gente respeitava muito os pais. Meu pai sempre me falava durante a viagem da importância do estudo e, o que eu faria em General Osório, que minha tia ia me ajudar, me dar roupas, que eu ficaria bem. Na verdade, minha tia queria mesmo alguém para ajuda-la nas tarefas de casa, pois ela era a melhor costureira do lugar e não tinha tempo para as tarefas domésticas. Ela era exigente demais. Aos domingos, minhas amigas me convidavam pra ir no matinê, ela não deixava, ainda mais que meu pai sempre recomendava pra não me deixar "solta por aí". Acho que ela não queria mesmo era pagar a minha entrada.
Aí, teve um dia que minha tia teve que ir a General Osório pedir para meus pais, para eu ir com ela morar em Campo Mourão para terminar o ginásio. Meu tio era empresário e tinha que ir de mudança pra lá. Fui junto pra General Osório pra me despedir dos meus pais, chegando lá, abri um berreiro e ameacei fugir se tivesse que ir embora de novo, já que agora eu já estava maiorzinha. Não lembro bem o que aconteceu mas, não voltei com ela. Ela me falou um monte de coisas, dizendo que eu ia ficar burra se não estudasse e muitas outras coisas. O bom dessa história é que ela voltou sozinha e eu fiquei com meus pais.
Mas, não durou muito tempo. Continuando a história, fui pra Curitiba com outra tia...
CONTINUA.....
Irene Weber com a priminha Irene Moijça.
 

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