quarta-feira, 15 de março de 2017

Wando Sckudlarek - Uma História de Amor a Ferrovia e de Superação


     Como contar uma história de uma vida em poucos parágrafos? Isso é um desafio!
Foi numa tarde de sábado que eu e Fátima Santos fomos visitar seu Wando Sckudlarek e dona Jurema, em Porto União. A princípio, seria uma visita rápida para podermos fotografá-los e ouvir algumas histórias de Marcílio Dias e da Estrada de Ferro. Lá ficamos a tarde toda e poderíamos ter ficado por muito mais tempo naquela companhia agradabilíssima que não faltariam boas conversas e risadas.
O Sr. Wando nasceu em Poço Preto, em 26 de dezembro de 1933, e seguiu os passos do pai, João, que também era ferroviário *Turmeiro e também barbeiro. Um dia, um cliente de seu pai, de nome José Monteleve, disse: “Wando porque não estuda para ser Telegrafista? ” De tanto ele lhe falar, ele foi fazer uma carta para poder pedir autorização para praticar. Trabalhava na empresa Olsen durante o dia para poder praticar à noite. Fez concurso para Telegrafista, depois Agente de Estação, Chefe de Estação e se aposentou como Supervisor. 

       Wando Sckudlarek, morava na casa de escamas em Marcílio Dias que foi comprada, por seu pai, do senhor Ernesto Todt em 1947. Segundo Sckudlarek, o antigo proprietário era um alemão que tinha um açougue. O pai de Wando utilizava o porão da residência para fabricar deliciosos vinhos, que eram feitos em vasilhames de 40 litros. Os garrafões eram comprados na cervejaria do Loeffler. Durante 44 dias era feita a purificação da bebida, para que pudessem deixá-lo envelhecer. Nas vigas de madeira eram marcados o dia, mês e ano da fabricação. “Para um litro de vinho eram utilizados 7 quilos de uva. Meu amigo Mário Aguiar dizia que o vinho era um remédio”,( risos). Com certeza era um Santo remédio pois seu Mário viveu até os 95 anos.

Casado com Dona Jurema há 58 anos e juntos tiveram três filhos: Wilson, Wilmar e Walquiria. A família morou na casa da Estação Ferroviária em Marcílio Dias de 1972 a 1978. O sogro também trabalhou na Estrada de Ferro: “Desde pequena morando na beira dos trilhos do trem”, afirmou D. Jurema.

Nessa época, fez curso de relojoeiro e fotografia. Comprou sua primeira máquina fotográfica em 1955, onde registrou belas imagens entre festas, retratos 3x4, paisagens e fotos com os antigos amigos de profissão. O primeiro casamento que fotografou foi de Elen Pangratz. Logo após a cerimônia, seu Wando chegou em casa e foi revelar os negativos. “Mandei a Jurema fazer o fogo no fogão à lenha, enquanto isso revelava as amostras de fotos que seriam escolhidas, posteriormente, pela noiva. Tirei as argolas do fogão, fiquei com os retratos na mão balançando até secarem. No mesmo dia entreguei para os noivos que ficaram espantados com a rapidez. Naquela época tudo era mais difícil, e às vezes demorava meses para um fotógrafo entregar as provinhas”, relatou. Na empresa Olsen fazia as fotos 3x4, colocava quatro funcionários, um ao lado do outro, para que pudesse economizar o filme. Também arrumava os relógios, trocando os rubis e fazendo pequenos reparos, quando necessários. Para os conhecidos fazia até a instalação dos relógios de paredes, conhecidos como cucos.

 Na sala de espera da estação, durante à noite, ele tinha aulas com a professora Aline Diettrich, que ensinava seu Wando e outros alunos do distrito para poderem concluir o ginásio (atual ensino médio). Depois de concluir os estudos, seu Sckudlarek passou no vestibular para administração, porém optou por deixar seu filho mais velho iniciar o curso, pois havia sido aprovado em Joinville, graças à dedicação do pai que lhe deu as aulas de Matemática.
Na Ferrovia, fazia um trabalho paralelo a pedido da Rede, ele tinha de medir o nível de chuvas na região “Tínhamos o pluviômetro na estação de Marcílio Dias, assim era possível saber quanto choveu em um dia. Se tinha dado raio, trovão ou vento, eu marcava também”, lembrou.
Um dia seu Wando teve que pegar uma rabeira de Trem. “O maquinista tinha dormido, eu pulei no vagão em movimento e fui até a cabine para acordá-lo”, relembrou. A Rede fornecia aos agentes, bombinhas que eram colocadas na linha durante o trajeto para que o maquinista não dormisse, ou se dormisse, acordasse com o barulho.
Na enchente de 1983, ele estava trabalhando em Erval do Oeste, a água entrou com tanta força na estação que chegou a tirar os vagões dos trilhos. Além disso, os ferroviários haviam colocado suas mudanças dentro dos compartimentos do trem, mesmo assim, não conseguiram salvar nada. A água invadiu tudo.
A despedida do Trem misto foi feita com muito carinho pelos companheiros. “Foi feito faixa e colocado bombinhas no trilho para nos despedirmos o último trem de passageiros na região", falou.
Em 1978, foi transferido para Porto União como Supervisor de Estação, se aposentou com 54 anos de profissão, mas ainda sente falta dos velhos tempos. “A vida inteira na linha do trem, tenho saudade. Fiz muitos amigos durante esses anos. Quando vejo tudo abandonado, dá uma pena disso tudo. Fico muito triste, a ferrovia era o maior patrimônio do Brasil, acabaram com a estrada de ferro”, desabafou.
  Atualmente, ele e esposa vivem em Porto União. Dona Jurema é voluntária da Rede Feminina de Combate ao Câncer, Seu Wando Mestre Harmonia Maçônico. Há dois anos teve um AVC, ficou em uma cadeira de rodas. Porém isso não deixou que ele desanimasse. Aos 84 anos com muita disposição e determinação, voltou a andar e as atividades do dia a dia. Faz exercícios regulares, dança com a esposa e tem um hobby, um estúdio de música em sua casa. Ele passa as músicas dos discos de vinil para o pen drive. Para quem quer chegar à terceira idade com tudo em cima, seu Wando é a prova que não devemos nos permitir de deixar de viver!
*Que cuidava da manutenção dos trilhos.
Escrito pela jornalista Pollyana Martins
A seguir fotos do acervo de Wando Sckudlarek:
Wando e Jurema em sua residência. Porto União, SC.

Ex-ferroviários.

Wando e Jurema no pátio da estação de Marcílio Dias.

Casal na estação de Marcílio Dias.
 

Antiga casa onde morou seu Wando em Marcílio Dias.
  Fotos registradas no dia da visita:
Fátima Santos, Wando e a jornalista Pollyana.

Wando e Jurema.

Wando com o quepe de Agente de Estação.

No estúdio.

Com o filho Wilson e o telégrafo.

Quepes que utilizou no período que trabalhou como ferroviário.

Com a antiga câmara fotográfica.

Leandro, Pollyana, Fátima e o casal Wando e Jurema em Porto União.
 Seu Wando conta uma história que aconteceu no tempo que trabalhava na estação de Marcílio Dias.
 



 

 

2 comentários:

  1. Tendo residido por oito anos em Caçador e interessado na história dessa região, gostaria de parabenizar as pessoas que tiveram a iniciativa dessa entrevista. Pessoas como o sr. Wando são a história viva desses locais...
    Nilson Rodrigues

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    1. Agradecemos o elogio! Realmente conversar com ele, foi uma aula de história, de cultura, de superação

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