terça-feira, 11 de junho de 2013

Marcílio Dias - pela professora Eunice Kluska

 
                        Complexo arquitetônico da Estação Marcílio Dias

Localizado no distrito de Marcílio Dias, o complexo arquitetônico da estação é composto pela estação, depósito e restaurante, tombados como patrimônio histórico cultural pelo seu valor histórico em relação a economia da região.
           A estação de Marcílio Dias teve seu primeiro nome como Canoinhas. Com a abertura do curto ramal de Canoinhas a Marcílio Dias, em 1930, ela passou o entroncamento com esse ramal, e teve alterado o seu nome para Marcílio Dias, em homenagem ao marinheiro gaúcho, herói da Guerra do Paraguai, que morreu enrolado na bandeira do Brasil, para não ter de entregá-la aos paraguaios, na batalha do Riachuelo, em 1865.
Três prédios sobram da estação de Marcílio Dias, no interior do município de Canoinhas, que são: estação, restaurante e depósito.

Inaugurada em 1º de abril de 1913, inicialmente era conhecida por “Estação Canoinhas”, no ramal ferroviário  São Francisco do Sul (SC) – União da Vitória (PR). A estação foi um dos mais importantes pontos de desembarque e embarque de tropas militares durante a Guerra do Contestado (1914-1916). Através dessa estação era escoada a maioria da produção econômica de Canoinhas, operando até a década de 80.

No percurso da busca por informações sobre o complexo arquitetônico da estação conversamos com Antonio Sergio de Souza Borges, filho caçula de Elpídio Borges da Silva, que ocupava o cargo de chefe de estação em Paula Pereira, depois de aposentado fixou residência no bairro Tricolin em Canoinhas.

Borges relata com emoção as viagens que fazia com os pais para Jaraguá do Sul, quando tinha 12 anos de idade.  

Nós pegávamos o trem das nove horas na estação daqui, a estação era onde hoje é a prefeitura de Canoinhas, íamos até a estação de Marcílio Dias numa viagem que durava meia hora, então pegávamos o trem que fazia a linha Porto União - São Francisco do Sul, para seguirmos viagem até Jaraguá do Sul. Embarcávamos às dez horas em Marcílio Dias, meio dia tinha a parada de almoço em Mafra, então seguíamos viagem chegando em Jaraguá do Sul entre dezoito – dezenove horas.(2009, entrevista concedida em 25/07).

          De acordo com Borges eram dois trens que faziam linha passando pela estação de Marcilio Dias, um trem era de passageiros e outro de carga.

Único meio de transporte coletivo na época o trem de passageiros era composto de máquina, o primeiro vagão era a cozinha e os demais eram divididos em primeira e segunda classe. A plataforma de embarque estava sempre cheia, relata Borges, os passageiros embarcavam o chefe de trem batia o sino, conhecido como sinal de poda, o trem apitava e começava a se locomover. Na época as pessoas não tinham pressa, tanto que demoravam um dia inteiro para chegar a Jaraguá do Sul, por exemplo, que hoje se vai em duas horas.(2009, entrevista concedida em 25/07).

             Em 1994/1995 a ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) reativou a ferrovia no trecho Três Barras – Marcílio Dias para passeio turístico, em um desses passeios, esta pesquisadora, teve a satisfação de embarcar em um trem pela primeira vez, apesar do passeio ser de apenas alguns quilômetros, foi possível sentir a emoção de viajar em um meio de transporte em extinção.

De um lado da estação está o restaurante que, segundo Viviane Bueno membro presidente do COMPAHC está como prioridade na lista de restauração.
Pode-se conferir através da foto o estado em que se encontra a construção que foi por muitos anos um local aconchegante, no qual os passageiros viajantes saciavam sua fome.



Interior do antigo restaurante.




Salão Metzger


           Construído em 1935 nas proximidades da estação ferroviária da vila de Marcílio Dias pelo comerciante Bernardo Metzger, o prédio em dois pavimentos em madeira inicialmente abrigava uma casa comercial, sala de sinuca, salão de baile e de festas, pensão e residência do proprietário. O salão possui mezanino e “varandas” ao redor, lembrando os antigos 'saloons' norte-americanos, além de preservar antigas peças publicitárias pintadas no início dos anos 1960.

          Em entrevista concedida a esta pesquisadora em 22/07/2009, Wigando Metzger  filho de Bernardo Metzger atual morador da casa conta que eram em 9 (nove) irmãos, sendo 5 (cinco) meninas e 4 (quatro) meninos, “dos homens sou o caçula” diz orgulhoso.
Dos 8 (oito) irmãos só dois moram em Canoinhas, um é falecido, e os outros por questão de emprego foram para Curitiba e Florianópolis.
Metzger conta seu pai era natural de Blumenau e veio para Canoinhas no dia 02/07/1922, foi fazer erva mate no Parado, interior de Canoinhas, onde conheceu Lina Keppe com a qual se casou.
Alguns anos depois arrumou emprego na serraria Olsen e foi morar em Marcílio Dias.
Como a serraria tinha muitos empregados em 1935 e existia uma grande dificuldade em arrumar lugar para ficar, o dono da serraria Wiegando Olsen propôs a Bernardo Metzger, que venderia a madeira em pequenas parcelas para que o mesmo fizesse uma casa com estrutura para abrigar os empregados da serraria. Surgindo, então, o primeiro pensionato na comunidade.
A casa foi construída com uma sala ampla para as refeições, nessa sala os empregados da serraria começaram a se reunir nas folgas do trabalho para dançar, nascendo então, o salão Metzger.

Ao falar sobre a casa, Metzger diz com certo orgulho, “hoje sou majoritário nas ações da casa, já comprei cinco partes”.
Quando indagado como se sente sendo proprietário de um patrimônio histórico se emociona: 
Me sinto muito contente, porque casa assim nunca mais. Hoje a madeira não presta pra fazer casa, ela apodrece logo. Antes a serraria só cortava pinheiro velho, grosso e na lua certa (não sabe qual era a lua boa para o corte) por isso que durava tanto, hoje cortam pinheiro muito novo então é fraco e caruncha logo (2009, entrevista concedida em 22/07)

Ao ouvir o os relatos de Metzger, entende-se que foi o amor que o mesmo nutre por seu patrimônio e por sua história, um incentivo para conservar a casa tal como foi construída, servindo hoje de referência a história de uma pequena comunidade como Marcílio Dias.
Na mesma rua a aproximadamente 100 (cem) metros está localizada outra construção que é orgulho da comunidade, a casa de escamas.
Única no estado de Santa Catarina com a parte externa revestida com pedaços de madeira que lembram escamas de peixe, daí o apelido casa de escamas, possui as paredes duplas característica das construções do início do século XX.
Quando foi descoberta pelo COMPAHC (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico Cultural) estava literalmente abandonada, quase todas as escamas já tinham caído, o telhado estava em estado precário, as paredes em decomposição pela ação do tempo.

A seguir, contemple a foto de como se encontrava a casa.


Como se encontra atualmente.
     Não foram encontrados até o momento documentos que comprovem a data real de sua construção, o que se sabe a respeito da casa é relatado pelo  atual proprietário Marcelo Müller Pazda que vê a casa como uma relíquia histórica e busca sua história.

Em entrevista concedida a esta pesquisadora, em 21/07/2009, Pazda relatou que está investigando a data de fabricação da mesma.

Elizabete Müller Pazda, sua mãe, comprou a casa com o terreno de Alzira Piermann há 20 (vinte) anos e em seguida passou ao filho.

Pazda relata que:

 Muito jovem na época, nem dei valor para aquilo, era só uma casa. Fui fazer faculdade de farmácia e a casa ficou abandonada. Foi quando me formei que comecei a ver a casa diferente, minha mãe quis derrubá-la porque estava muito estragada, mas não deixei. Falei pra ela que deixasse a casa do jeito que estava que algum dia ia servir pra alguma coisa, pensei até em transformá-la num depósito (2009 entrevista concedida em 21/07).

Através do COMPAHC (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico Cultural), a casa de escamas foi indicada para tombamento.

Sobre o tombamento Pazda relata que:

 Quando fui informado, do processo de tombamento relutei em aceitar, pois achava que teria que doar o terreno com tudo para a prefeitura. Eu não conhecia a lei, então fui me informar e ao saber como funcionava, achei uma ótima ideia. E no que depender de mim a casa será para sempre conservada, agora eu quero morar nela (2009, entrevista concedida em 21/07).

Em relação ao que pretende fazer da casa, agora restaurada Pazda diz:

 No momento não pretendo fazer dela um ponto comercial, mas dependendo crescimento do turismo e do interesse pela visitação, no futuro quem sabe, pois o turista não viaja para ver modernidade e sim para conhecer a história através de coisas antigas (2009, entrevista concedida em 21/07).

Nota-se em sua fala que Pazda sente-se orgulhoso em possuir um imóvel com referência histórica e mostra-se apaixonado pela preservação da casa.

 
Eunice Kluska, professora de Artes da Escola Prof. Manoel
da Silva Quadros.
Este texto foi extraído do Trabalho de monografia do Curso de especialização em Arte Educação da UnC, Campus de Canoinhas, da Professora Eunice Kluska.

Um comentário:

  1. parabéns Eunice, realmente é uma bela história de Marcilio Dias. Sou natural deste lugar e sinto muita saudade do tempo que vivi aí.Curto muito este blog.

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