7h30.
Uma manhã de 1944. Aos 13 anos, Curt Salai chega à casa da proprietária do
restaurante. Além de recolher lenha para a cozinha, encher os tambores com água
e cuidar da criação, sua função é a de acompanhar dona Tereza Gobbi até o
empreendimento, ao lado da estação ferroviária de Marcílio Dias. Em uma das
mãos, a senhora com mais de 80 anos leva uma bengala. Na outra mão, uma sacola
que, à noite, voltaria com o dinheiro das vendas.
O
restaurante oferece almoço e janta para os viajantes do trem. Em alguns dias,
cerca de cem almoços são servidos. Ao final do expediente, já à noite, o menino
Curt e a senhora do restaurante voltam para a casa dela. A sacola, antes vazia,
volta com caixas de charuto cheias de dinheiro. A casa fica perto. Eles passam
por uma trilha, onde há um banco para que Tereza senta e descansa um pouco.
Acima do peso, com a bengala e com a sacola cheia de dinheiro, ela se cansa mais
rápido. Tudo escuro. Não há iluminação nas ruas
Depois
de alguns minutos, os dois continuam pelo caminho até a casa. Entram pelos
fundos. Enquanto dona Tereza se senta à grande mesa e esparrama o dinheiro para
a contagem, Curt acende o fogo, traz um balde com água, enche a chaleira e
prepara a banheira. Inúmeras vezes, Curt vê a proprietária do restaurante
separando o dinheiro das contas em pacotes, para pagar no dia seguinte.
Inúmeras vezes, o menino volta ao restaurante – para acompanhar as funcionárias
depois de lavarem a louça – e deixa a porta aberta. Não há preocupações, mesmo
que todos saibam que dona Tereza tem bastante dinheiro consigo.
LEMBRANÇAS
15
horas. Segunda-feira, 13 de maio de 2013. Curt Salai não tem a mesma disposição
de quando era menino. Das pessoas com quem convivia na época do restaurante da
dona Tereza, poucos ainda vivem. A voz puxada, forte, carregada, devolve aos
ares da casa, em Marcílio Dias, as lembranças de tempos bons. Tempos de luta e
trabalho, mas muito bons.
Depois
de trabalhar com a proprietária do restaurante, Curt foi chamado para trabalhar
em uma fábrica de tacos, da firma Wiegando Olsen S/A. Aos 14 anos, ele foi
contratado no novo emprego com o salário mínimo, que era 200 cruzeiros. Bem
melhor, já que com Tereza ele ganhava apenas 60 cruzeiros. “Do primeiro cruzeiro,
que começou a circular em 1942”, recorda com tamanha segurança no que fala.
Despediu-se da proprietária do restaurante que, por sinal, era muito boa, mas
não podia negar um salário melhor.Quando tinha 19 anos, Curt precisou sair da empresa para servir ao Exército Brasileiro. Foi encaminhado para o Rio de Janeiro, em janeiro de 1950. Rapaz do interior, viveria uma das melhores experiências de sua vida. Era o ano da Copa do Mundo. Rio de Janeiro seria um dos palcos dos jogos. Na 1ª Companhia de Polícia do Exército, Curt não assistiu aos jogos como espectador, mas trabalhou como guarda. “Você não imagina o que enfrentamos com aquele povo todo.”
Quando
retornou a Canoinhas, Curt trabalhou em algumas empresas da região. Aos 82
anos, a lembrança de como começou a trabalhar em cada lugar ainda é muito viva.
Mas a preocupação na educação dos filhos chama a atenção. Quando a filha mais
velha precisava continuar os estudos, Curt buscou condições para isso. E,
assim, com os outros três filhos. Ele não quis colocá-los para trabalhar na
cerâmica em que se aposentou – depois de 29 anos de trabalho – porque entendeu
que a escola era o melhor caminho para que construíssem um bom futuro.
Curt
Salai ainda guarda muita história que, segundo ele, poderia preencher o Correio
do Norte por três meses. História de luta, trabalho, educação e respeito que se
estende pelos seus 82 anos.
Texto do Jornalista Fábio Rodrigues do Jornal Correio do Norte
Texto do Jornalista Fábio Rodrigues do Jornal Correio do Norte
Curt Salai com a família. Genro Mauro, filhas Márcia e Marisa, filho Mauro, netos Marlon, Jéssica e Helen, nora Neusa. |
Seu Curt e a neta Helen. |
Seu Curt com as filhas Marisa e Márcia e com o genro Moacir. |
A família do Sr Curt Salai agradece a delicadeza com a postagem no BLOG que já é referência de Marcílio Dias.
ResponderExcluirAbç
As autoras deste Blog é que agradecem por partilharem conosco e com os leitores uma história tão bonita de trabalho, honestidade e amor a família.
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