A história de
Marcílio Dias é parte integrante da região norte de Santa Catarina iniciando-se
bem antes da fundação da cidade de Canoinhas.
O
Distrito esta localizado às margens do Rio Canoinhas, próximo à desembocadura
deste no rio Negro. Esse rio era conhecido e utilizado pelos primeiros
exploradores do Brasil Meridional, que singravam suas águas como caminho
natural para a penetração ao interior. Muito antes da presença do homem branco
por estas paragens, diferentes grupos indígenas ocuparam a região.
O
grupo mais antigo, e que deixou vestígios, é o dos índios Guarani, que ocuparam
o planalto catarinense e sul do Paraná na época da conquista portuguesa. Foram
descritos por D. Alvar Nunes Cabeça de Vaca, que cruzou o planalto catarinense
e paranaense, em 1541, quando percorreu por terra o caminho de Barra Velha a
Assunção no Paraguai.
Os
índios não tinham residência fixa, eram nômades e viviam da caça e da pesca,
mais da caça que da pesca, às margens dos rios, Canoinhas, Negro e Iguaçu.
Construíram suas residências, às margens desses rios e, provavelmente, também
em território de Marcílio Dias.
A exuberância da
floresta, rica em imbuia, pinheiro, gabiroba e outras variedades, facilitaram o
desenvolvimento de uma diversificada fauna, tornando a região especial para a
caça de capivaras, lontras, tatus, veados, antas, pacas, cutias e pássaros como
jacu, inambu, codorna e perdiz, esta ave muito abundante nos campos que
margeiam esses rios. Por esses condicionantes, aliado a fertilidade do solo e a
abundância de água potável, certamente teriam atraído os índios para
periodicamente habitarem a região.
Mas
os índios Guaranis foram vítimas da política dos brancos estrangeiros. Com a
criação das Missões, os padres jesuítas espanhóis atraíram os índios, para
formar Ciudad Real e Villa Rica, nas proximidades de Foz do Iguaçu, no Paraná.
Por volta de 1650 já
quase não havia mais Guarani na região de Marcilio Dias. A área foi então
dominada por índios do grupo Gê, os Xokleng e Kaigang, que ocupam os antigos
domínios dos Guaranis. Esses novos índios migraram da região de São Paulo, onde
já estavam sofrendo o processo de desapropriação de suas terras pelos caboclos,
descendentes de portugueses e índios, que aos poucos estavam colonizando a
região próxima ao planalto de Piratininga. Em busca de novas áreas para a sua
sobrevivência, ocupam a região mais ao Sul do Brasil.
Os Kaigang
localizam-se mais ao oeste de Santa Catarina, ocupando ainda o sudoeste do
Paraná e Noroeste do Rio Grande do Sul, fixando-se nas áreas periféricas aos
campos.
Os
Xokleng instalaram acampamentos em vários locais e ocuparam as áreas
compreendidas entre as escarpas da Serra do Mar, desde Porto Alegre até
Curitiba, e na Região do Contestado, segundo Thomé, (1981, p.26), “dominando
parte dos extensos pinhais a leste do Rio do Peixe, em Caçador, Lages,
Curitibanos, Santa Cecília, Canoinhas, onde faziam a coleta do pinhão”.
Os
últimos índios a ocuparem a região de Canoinhas foram os Xokleng e à medida que
o homem branco avançava em busca da grande riqueza, a erva-mate e de novas
áreas de colonização, o território indígena foi ficando cada vez mais reduzido.
Marcilio
Dias foi uma das últimas áreas abandonadas pelos Xokleng. Em 1868 foi feita uma
tentativa de agrupá-los na Missão de São Tomas de Papanduva, que mais tarde
veio a se constituir em território de Canoinhas, mas a missão redundou em
fracasso, pois os índios cansados de serem espoliados, não se sujeitaram a
pacificação e embrenham-se nas matas onde o branco ainda não tinha chegado.
Localizaram-se mais a oeste, no interior dos atuais municípios de São Bento do
Sul, Rio Negrinho, Itaiópolis e à medida que os colonos europeus iam se
fixando, oferecem pequena resistência, mas logo são caçados como animais
selvagens pelos bugreiros, (1) sertanejos e imigrantes, contratados pelo
governo e companhias de colonização, para exterminarem os bugres, (2) e limpar
a área para que imigrante pudesse se fixar na área com segurança. À medida que
iam sendo acossados pelos brancos no planalto, iam descendo para as encostas da
Serra do Mar e Vale do Itajaí, onde para
sobreviver tiveram que guerrear contra os brancos. Mas essa aventura pela
sobrevivência de seu povo teve um custo extremamente alto, a quase extinção do
Xokleng, fato este que se constituiu em uma página triste na história da
colonização de Santa Catarina.
Do
índio Xokleng que habitava a região de Marcilio Dias, ainda há sobrevivente
e é importante lembrar que esses índios
segundo Thomé, (1981, p.26), “Antes
habituados à total liberdade, partiram para luta em defesa de suas famílias, de
suas tradições, de seu “habitat”, e aí começou seu extermínio.”
Os
remanescentes dessa luta desigual, da arma de fogo contra a flecha, foram
agrupados na reserva indígena Duque de Caxias, da FUNAI, localizada em parte
dos municípios de José Boiteux, Ibirama,
Itaiópolis, Santa Terezinha.
Na
visão do homem branco, esses índios eram considerados preguiçosos, não tinham
patrão e nem espírito mercantilista ou capitalista. A sua necessidade maior era
a sobrevivência, e por isso eram destemidos na luta em defesa de seu território
e de sua família.
Por usarem um enfeite de madeira nos
lábios, o botoque, esses índios ficaram conhecidos como botocudos. Esse enfeite
era usado apenas pelos homens, e hoje ainda existem tribos no Brasil que o
utilizam.
(1)
Para
afugentar os índios para longe das áreas de colonização por imigrantes europeus
e do caminho das tropas que ligavam o Sul do Brasil com São Paulo, o governo
criou a Companhia de Pedestres e o batalhão de batedores. O insucesso desses
grupos propiciou a criação de bandos de bugreiros, caboclos e imigrantes que se
embrenhavam na mata para trucidar os índios.
(2)
Os
índios Xokleng eram conhecidos também como bugres e botocudos
Texto de Antonio Dias Mafra Coordenador e Professor do Curso de História-Unc Mafra
ACONTECEU
Reunião Itinerante da Câmara de Vereadores faz referência ao centenário da Guerra do Contestado
Sex, 26 de Outubro de 2012 10:33 |
A Universidade do Contestado recebeu na terça-feira, 23, no Auditório do campus de Mafra, o Poder Legislativo do município, para sua reunião ordinária, alusiva as Comemorações do Centenário do Contestado.
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- O professor Antonio Dias Mafra, docente da UnC, foi homenageado por seus trabalhos que resgatam a História do Contestado, como sua dissertação de mestrado, "A conteceu nos Ervais - A disputa territorial entre Paraná e Santa Catarina pela exploração da erva-mate - região sul do vale do Rio Negro. Projeto de Pesquisa intitulado “Os Caminhos Históricos da Base Econômica da Região de Canoinhas”, além de artigo completo “A Educação Escolar durante a safra da erva-mate".
Professor Antonio Dias Mafra |
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