terça-feira, 29 de janeiro de 2013

9- UMA COLÔNIA DE DESCENDENTES GERMÂNICOS



                “Colônia Alemã de Marcilio Dias”, esta denominação atravessou o tempo, tornou-se uma tradição e se consolidou, para o orgulho dos seus moradores. Mas esta pesquisa demonstra que nem todos os pioneiros eram alemães. Como a pesquisa foi limitada por falta de mais fontes, as informações servem apenas como subsídios e não pretende ser conclusiva.  Para ampliar a biografia dos pioneiros, é necessário que haja mais pesquisas em outras fontes.  Segundo Stulzer, (1981, p. 117): A “Colônia São Bernardo”, antiga denominação de Marcilio Dias, foi iniciada por Bernardo e Maria Olsen “especialmente para alemães, numa área de 790 alqueires”. Não foi muito fácil criar a colônia e o casal enfrentou algumas dificuldades iniciais. No ano de 1913, quando a ferrovia foi inaugurada, o projeto de colonização foi prejudicado pela Guerra do Contestado que se acirrou no final desse ano. Em meados de 1914, iniciou a primeira guerra mundial, cessando a imigração europeia para o Brasil. A estação ferroviária estava localizada em território contestado, sujeito a ataques dos sertanejos, portanto uma área sem segurança até 1916. Santa Catarina só tomou posse dessas terras a partir de 03 de agosto de 1917, quando então a colonização foi autorizada. O casal Olsen não conseguiu vender os lotes apenas para alemães conforme a proposta inicial citada por Stulzer, mas teve que se contentar em vendê-los para colonos que falava alemão, os povos germânicos vizinhos da Alemanha, ou para os denominados teuto-brasileiros, isto é descendente de alemães, mas nascidos no Brasil.

Para se entender o contexto é importante salientar que a Alemanha somente foi unificada em 1871, quando a Prússia reuniu um conjunto de mais de 30 reinos e principados independentes, formando o Reino Alemão. Para identificar a procedência da maioria dos fundadores da Colônia São Bernardo, hoje Marcilio Dias, buscou-se sua origem antes da chegada ao Brasil. A fonte para essa pesquisa foi o livro “Os Pioneiros”, em dois volumes editados pelo Arquivo Histórico de Joinville/UNIVILLE, onde constam os registros de entrada dos imigrantes de 1851 a 1881, ancestrais da maioria dos teuto-brasileiros, fundadores da Colônia São Bernardo. O livro confirma que até  1871 não veio imigrante alemão do reino para o Brasil,  por não existir Alemanha. A  partir de 1871, o chanceler Bismark, necessitando de mão de obra para a construção do Novo Império, ameaçou com a perda de cidadania quem emigrasse. A emigração de alemães do reino somente foi autorizada em 1897, com a criação da Sociedade Colonizadora Hanseática, mas foi interrompida pela primeira grande guerra em 1914.

Para identificar os primeiros colonos que compraram lotes do casal Olsen, foi realizada uma pesquisa no Cartório de Registro de Imóveis de Canoinhas. Talvez muitos lotes tenham sido vendidos anteriormente, mas somente foram escriturados a partir de março de 1919.

Dentre os primeiros colonos havia descendentes de austríacos, suíços, noruegueses, tchecos e oriundos de pequenos reinos e principados que se uniram a Prússia em 1871 para formar a Alemanha moderna. A língua predominante na Colônia São Bernardo era o alemão, mas no interior dos lares, as famílias falavam o idioma bávaro ou o pomerano.

Os próprios iniciadores da Colônia São Bernardo não eram alemães.  O pai de Bernardo Olsen, Gjert Olsen era norueguês e veio para Joinville no Barco Colon, que trouxe os primeiros imigrantes  em 1851. Apesar de já ser casado deixou a mulher e os filhos na Noruega e, casou-se com a suíça Ana Fischer.

Bernardo Olsen nasceu em Joinville e casou-se com Maria Ritzmann, filha de Jacob Ritzmann, que nasceu na Província de Schafausen na Suíça, chegando a Joinville em julho de 1851. Entre os primeiros proprietários dos lotes vendidos pelo casal Bernardo e Maria Olsen encontraram-se famílias de várias procedências:


Germano Fischer: Os pioneiros dessa família chegaram a Joinville em 1852, originários de Herblingen, na Suíça. Mais tarde em 1876 vieram outras famílias da Boêmia, na República Tcheca.

Rodolfo Schroeder: A primeira família chegou a Joinville em 1852, mas logo chegaram família com o mesmo sobrenome, de três países diferentes: Áustria, Prússia e Boêmia na Republica Tcheca.

Emilio Fallgater: O primeiro com esse sobrenome chegaram a Joinville em 30 de setembro de 1854, procedente de Schen-Altenburg, um ducado que somente foi incorporado à Alemanha em 1871.

Teodoro Heyden: O imigrante com esse sobrenome veio para Joinville em 18/07/1879 procedente da Pomerânia, que nessa época já fazia parte do Reino Alemão. Em 20 de outubro de 1856 chegou a Joinville, o primeiro imigrante com esse sobrenome, mas com a grafia Heiden, procedente da Prússia.

Henrique Maros: Emigrou de Joinville para a Colônia São Bernardo. Membro da mesma família veio da Boêmia, em 20 de julho de 1876, para radicar-se em São Bento. Em Marcilio Dias encontramos sobrenome Marros, talvez seja erro de grafia ou não sejam do mesmo tronco, pois não se encontrou  pioneiro com   com esse nome, no período analisado.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                               
Reynaldo Endler: Os pioneiros vieram da Boêmia, República Tcheca e chegaram a Joinville em 20 de junho de 1876. Subiram a Serra do Mar e se radicaram em São Bento, de onde migraram para a Colônia São Bernardo.
 
Catharina Wiese: Os Wiese Chegaram a Joinville em 23 de novembro de 1876 e residiam na Silésia, já incorporada à Alemanha.

Gustavo Hatschbach: Os pioneiros vieram da Boêmia e chegaram a Joinville em 01 de junho de 1873.

Carlos Groth: A família era originária de Holstein, já integrada à Alemanha e chegaram a Joinville em 02 de junho de 1881. Residia em Corupá antes de se mudar para a Colônia São Bernardo.

Alberto Voigt: Chegou a Joinville em 13 de Janeiros de 1858, uma família originária de Gosta, na Prússia. Outra família com o mesmo sobrenome veio da Pomerânia em 21 de julho de 1879, já integrada à Alemanha. Alberto antes de emigrar para a Colônia São Bernardo residia em Joinville.

Germano Klaumann: A família Klaumann foi pioneira em São Bento, e era originária da Prússia.  Um membro da família, Rodolfo Klaumann, mantinha o serviço de diligência entre São Bento e Rio Negro, transportando passageiros e malas do correio. Na sua biografia consta que ele foi soldados na guerra Franco-Prussiana em 1870/71.

Raimundo Wohl: A família é procedente da Boêmia, na Republica Tcheca e os primeiros imigrantes chegaram a São Bento no ano de 1877.

João Jantsch: Sua família veio da Boêmia na Republica Tcheca em 20 de julho de 1876, para São Bento. Antes de residir em Marcilio Dias era comerciante em Rio Vermelho, no interior desse município.

Francisco Stoeberl, sua família chegou da Boêmia, Republica Tcheca em 1874. Residia em Joinville antes de se transferir para a Colônia São Bernardo.
 

Das famílias pioneiras que compraram lotes do casal Olsen e de outros, na Colônia São Bernardo, escriturados de 1919 a 1922 (período levantado),  constam ainda a de Guilherme Melchert e Francisco Melchert, residiam anteriormente em Joinville. Frederico Wolfer, residia em Rio Fortuna – SC. José Hübl, Cristiano Todt, Henrique Goestmeier e Francisco Goestmeier, também residiam em Joinville. Pedro Francisco Prim, Estephano Stekle, e João Fedalto, não se encontrou o local de residência dessas famílias antes de migrar para a Colônia São Bernardo, e nem o país de procedência, nos documentos pesquisados.
 
Com o desenvolvimento da Colônia, novos colonos foram adquirindo terras e se juntando ao grupo de pioneiros:

Frederico Wolter: Sua família era procedente da Prússia e chegaram a Joinville em dezembro de 1865, antes da unificação da Alemanha.

Gustavo Weber: Sua família era procedente da Suíça e chegou a Joinville em 12 de dezembro de 1851.

João Moeller: Sua família é procedente de Hamburgo na Prússia e chegou a Joinville em 24 de junho de 1859, antes da unificação da Alemanha. João Moeller residiu em Joinville, foi professor da Escola da Sociedade Escolar São Bernardo.

Germano Raabe: Sua família era originária da Prússia e chegou a Joinville em 21 de outubro de 1857. Em 1877 veio uma família da Boêmia, mas a grafia era Raab. Germano emigrou de Joinville para a Colônia São Bernardo.

Francisco Soetbeer: A família era originária de Hamburgo na Prússia e chegou a Joinville em 03 de junho de 1854, antes da unificação da Alemanha. .

Carlos Pscheidt: A família era originária da Boêmia, na Republica Tcheca e veio para Joinville em 10 de junho de 1876. Alguns membros se radicaram em Rio Negro e outros em São Bento.  

Frederico Noernberg: A família era originária da Prússia e chegaram a Joinville em 30 de junho de 1867, antes da unificação da Alemanha. Casado com Anna Noernberg,  veio com a família de Joinville, para a Colônia São Bernardo.

Francisco Möbius: A família é originária da Saxônia, que chegou a Joinville em 31 de agosto de 1868, antes da unificação da Alemanha. Francisco era natural de Hansa, atual Corupá.

Viúva Jacobi: A família é originária de Hamburgo, na Prússia e chegou a Joinville em 20 de maio de 1852.

João Reese: A família e procedente da Prússia e chegou a Joinville no ano de 1851.

Adolfo Dietrich: A família veio para o Brasil, procedente da Prússia, em 22 de junho de 1857. Radicado em Rio Negro, se tornou agente da estação ferroviária da Marcilio Dias.

Bernardo Metzger: A primeira família chegou a Joinville em 19 de julho de 1852, originária da Suíça. Membros dessa família se radicaram em Blumenau.

 
Outros sobrenomes que se integraram aos pioneiros e constituíram a base das famílias germânicas de Marcilio Dias:

Koehler: A família veio da Saxônia e chegou a Joinville em 20 de julho de 1855. Outra família com a grafia Köhler veio da Boêmia em 20 de outubro de 1855. Max Koehler, antes de emigrar para a Colônia São Bernardo, residia em São Bento do Sul.

Priebe: A família era procedente da Pomerania, já incorporada à Alemanha e chegou a Joinville em 11 de abril de 1874. Fixou residência em São Bento de onde migraram para a Colônia São Bernardo.

Mühlbauer: A família chegou a Joinville em 11 de junho de 1876, de Flecken na Boêmia, Republica Tcheca. Subiram a Serra do Mar para residir em São Bento.

Zimmermann: A família chegou a Joinville em 20 de junho de 1876, procedente da Boêmia, na Republica Tcheca.

Gassner: A família é procedente da Boêmia, e chegou a Joinville em 22 de abril de 1877, vindo em seguida para São Bento.

Radatz: A família era numerosa e chegou a Joinville, procedente da Prússia no ano de 1859, antes da unificação da Alemanha. .

Mewes: Uma família chegou a Joinville procedente da Prússia em sete de outubro de 1878, pertencente ao reino Alemão. Uma outra família com a grafia Mews, chegou em Joinville em 20 de maio de 1879, procedente da Pomerânia, já integrada à Alemanha.

Linsmeyer: A família chegou a Joinville em 19 de junho de 1877, procedente da Boêmia. No mesmo ano chegou outra família, com a grafia Linzmeyer, também procedente da Boêmia.

Pirmann: A família do comerciante João Felippe Pirmann,  veio de Viena capital da Áustria,  em 1889, para Jaraguá do Sul. Antes de instalar sua casa comercial, João F. Pirmann trabalhou na serraria de Francisco Waldemiro Olsen, no interior de Canoinhas.


Pela pesquisa acima, confirma-se que os pioneiros da Colônia São Bernardo,  em sua maioria não vieram da Alemanha, mas de reinos e principados formados por povos que no passado integravam o Sacro Império Romano Germânico. Para definir a origem europeia das famílias, é importante a participação dos descendentes, confirmando ou refutando os dados acima.  Como ainda não há uma pesquisa conclusiva, optou-se por chamar Marcilio Dias de “uma colônia de descendentes germânicos”. Mas esta é uma afirmação com parcialidade,  pois a principal obra em Marcilio Dias no início do século XX era a estrada de ferro, que foi construída e funcionou durante muitos anos, graças aos trabalhadores em sua maioria  nacionais e  os descendentes de poloneses e ucranianos.

 Texto de Antonio Dias Mafra.

Um comentário:

  1. Retificação:
    Família GROTH
    Conforme Arquivo Histório de Joinville:
    Vapor: GUAHYBA
    Chegada em São Francisco: 28/11/1897
    GROTH, Heinrich: 42 anos, operário, Hamburgo, c/ mulher Elisabeth (46), filhos Heinrich (16),
    Johann (15), Karl (15), protestantes. (J e D)
    - Karl ou Hans Friedrich Carl Groth casou-se com Lucie Meta Hedwig Waldow em 22/12/1906 em Jaraguá do Sul, SC e tiveram 8 filhos nascidos em Marcílio Dias: Metha, Harry, Emília, Emílio, João, Elisabeth, Jorge e Hilda
    Os pais Heinrich e Elisabeth e seus outros dois filhos viveram em Corupá e Caçador (João Groth)

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