terça-feira, 29 de janeiro de 2013

7 – A NAVEGAÇÃO POR MARCILIO DIAS, PELO RIO CANOINHAS.


            Canoinhas e região tiveram o seu desenvolvimento dependente de duas importantes redes de transportes, a dos tropeiros que transportavam mercadorias e erva-mate pelo interior e do caminho por onde navegavam canoas e pequenas embarcações, o rio Canoinhas e seus pequenos afluentes. Pelo rio chegou à região em 1882, o Coronel Jaques Euriques, a serviço do governo do Paraná. Veio buscar subsídios para o governo daquela Província, que estava disputando esta área com Santa Catarina, na questão do Contestado. No seu relatório não registrou a presença de colonos e nem indícios de povoamento. Descreveu a riqueza da fauna e da flora e registrou a presenças de índios nas margens do rio. Este relatório deve ter motivado o governo do Paraná a enviar colonos nacionais para a região, pois se o governo de Santa Catarina, até aquele momento não havia ocupado a região, era uma demonstração clara de falta de interesse. Como se tratava de um agente do Paraná, o relatório pode ter sido alterado de propósito, com o objetivo de provar que a área estava liberada para aquela Província realizar a sua ocupação. Por esse motivo, apesar dos poucos documentos da época, os estudos sobre a presença de moradores em Marcilio Dias antes de 1882 não é conclusivo. Pesquisas minuciosas em outras fontes poderão levantar fatos e dados novos.                                        No final do século XIX o Rio Negro, Iguaçu e respectivos afluentes, já eram sulcados por embarcações que realizavam o comércio entre as cidades de União da Vitória, Porto Amazonas e Rio Negro. Mesmo sendo a região uma área contestada, empresas e capitalistas catarinenses e paranaenses demonstraram interesse pela riqueza da região principalmente a erva-mate.                                                                                         Em abril de 1874, pelo Decreto n. 24, da Assembléia Legislativa da Província de Santa Catarina, foi concedido o privilégio exclusivo por 20 anos, a Manoel Gonsalves da Rosa, para organizar a navegação a vapor dos rios Negro e Iguaçu, na divisa com a Província do Paraná.                                                                                                                            O negócio era rendoso, e levou o empresário paranaense Coronel Amazonas Marcondes a introduzir o serviço de navegação a vapor, a partir de União da Vitória com ponto terminal na cidade de Rio Negro e outro ponto nas proximidades de Curitiba (atual Porto Amazonas). A navegação pelo rio Iguaçu, Negro e seus afluentes, foi comemorada pela população dos portos ribeirinhos conforme Almeida, (1966, p 53), [...] “4 de fevereiro de 1883 é data memorável na história de Rio Negro. Nesse dia chega a então Vila o Vapor “Cruzeiro”, navegando desde o rio Iguaçu e ligando assim, Rio Negro e toda a zona ribeirinha dos rios Iguaçu, Negro, Potinga e Canoinhas. Por muitos anos foi essa via de comunicação usada para o transporte de cargas e passageiros, na zona”                                Se o barco a vapor percorria os rios acima descritos, transportando cargas e passageiros, temos então as seguintes questões: ou o Paraná, com base no relatório do Coronel Jaques, deslocou grande quantidade de colonos para a região, ou o relatório de 1882 não era verdadeiro e visava apenas beneficiar os empresários do Paraná, que podiam continuar extraindo erva-mate, em terras devolutas.                                                                           Empresários e o governo do Paraná, não viam com bons olhos o deslocamento de mercadorias para o porto de São Francisco do Sul. Em Rio Negro no lado norte, e na atual cidade de Mafra, no lado sul, existiam dois portos, um em cada lado do rio, para atracamento de pequenas embarcações. Os produtos eram transportados desses portos em carroções, pela Estrada Dona Francisca, concluída em 1892, para o porto de São Francisco do Sul.  No trecho Mafra a São Bento do Sul, a antiga Estrada Dona Francisca é denominada de rodovia BR.280. De São Bento do Sul, até Joinville, o trecho é mantido pelo Estado de Santa Catarina, a rodovia SC 301.                                                                                 Da Colônia Dona Francisca, atual Joinville, vinham produtos que eram conduzidos para o interior dos dois estados, pelos rios, para abastecer os comerciantes.                               A disputa pela erva-mate, a construção da Estrada Dona Francisca e a navegação fluvial, por rios considerados paranaenses, acirrou a questão do Contestado na região. O governo do Paraná tomou medidas enérgicas e a prisão do Vapor Minuano, foi assim descrita por Almeida, (1966): "Em 1896 a Empresa de Navegação mantida por Procópio Gomes de Oliveira, de Joinville, que fazia o tráfico fluvial entre o rio Iguaçu e o Rio Negro, que já havia sido interditado pelo governo do Paraná, foi apreendido com força armada o vapor Minuano, e as lanchas que fazem a navegação subvencionada pelo Governo de Santa Catarina. A apreensão das embarcações foi efetuada pela Intendência de Rio Negro, a mando do Governador do Paraná”.                                                                                   
            A atitude do governo paranaense visava coibir o transporte da erva-mate produzida ao longo dos rios: Negro, Canoinhas, Iguaçu, Potinga, Paciência e outros e conduzida para os portos da cidade de Rio Negro, com destino a Joinville, onde se concluía o processo de beneficiamento para posterior exportação. O Paraná considerava que o rio Negro e Iguaçu corriam dentro de seu território e que estava havendo contrabando de erva-mate por parte de Santa Catarina. Em 1919 com o fim da questão do Contestado, o coronel Bernardo Olsen inaugurou a barca Elfrida, para transportar erva-mate de Major Vieira para seu porto particular em Marcilio Dias. Em 1915 vários empresários paranaenses se uniram e criaram o Lloyd Paranaense, uma empresa de barcos que navegavam pelos rios Iguaçu, Negro e afluentes. O transporte fluvial era mais lento que o ferroviário, mas era muito mais barato e atendia a população ribeirinha até o ano de 1953, quando a navegação fluvial foi desativada. O Lloyd fazia o trajeto de Porto Amazonas a Rio Negro, navegando também pelos seus afluentes. Os principais portos a partir de Porto Amazonas: Cerquinha, Canta Galo, Palmira, Rancho da Taboa, São João, Mato Queimado, Canoeiro, Porto Feliz, Imbuial, Água Branca, Volta Grande, São Mateus do Sul, Roseira, Lagoa do Norte, Fluviópolis, Vera Guarani, Valões, Jararaca, Poço Preto, Estácios, União da Vitoria, Vila Zulmira, Porto da Cruz (Timbó), Vila Nova do Timbó, Porto Simplício, Emboque, Porto Soares, Queimados, Porto Ribeiros, Marcilio Dias, Canoinhas, Salseiro, Salto Canoinhas, Três Barras, Porto das Pedras, Rio Negro. Conforme o roteiro do Lloyd, havia quatro portos no rio Canoinhas. O de Marcilio Dias, localizava-se ao sul do estádio de futebol do São Bernardo, no local chamado de porto do Kreiss.
 
Barco Elfrida, de propriedade de Bernardo Olsen, na sua viagem inaugural do porto do Salto Canoinhas em Major Vieira, para o porto de Marcilio Dias, no ano de 1919. Este porto localizava-se nos fundos da serraria da família .


 
Embarcação do Lloyd Paranaense que navegou pelo rio Canoinhas, com porto de parada em Marcilio Dias. (Porto do Kreiss)

Consultas:

ALMEIDA, Raul de. História de Rio Negro. Curitiba. Impressora Paranaense, 1966.

DA SILVA, Osmar Romão. Canoinhas – notícia estatístico-descritiva. Florianópolis: 

      Dep. Estadual de Estatística, 1941.

LEMOS, Zélia de Andrade. Curitibanos na História do Contestado. Florianópolis: Ed

     Governo do Estado de SC, 1977

EHLKE, Cyro. A conquista do Planalto Catarinense. Rio de Janeiro. Ed. Laudes, 1973

Canoinhas, Manuscritos Avulsos, Assembléia Legislativa de SC, 200l, p. 9

 
Pesquisa de Antonio Dias Mafra, Professor e Coordenador do Curso de História da UnC de Mafra.

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