Sempre gostei de estar envolta por pessoas ligadas às letras, ligadas
às artes. Em meu tempo de estudante de Medicina o apaziguamento de
minha mente eu encontrava escrevendo para um jornal de Curitiba e no
contato com um heterogêneo grupo que, em todas as tardes, se reunia em
uma galeria de arte.
A galeria ficava bem na esquina de onde eu morava e a dois passos
da Policlínica da nossa Faculdade onde aconteciam as magistrais aulas
teóricas.
Esquecer as mazelas e as dores encontradas dentro dos hospitais,
necessário era. E naquele grupo formado por escritores, jornalistas,
fotógrafos, artistas plásticos, músicos, arquitetos e outros mais aficionados
pelas artes tudo era assunto, menos as angústias por onde eu passava o dia.
Um grupo que reunia a fina flor da boemia intelectual de uma época, como,
jocosamente, nos denominávamos.
Imprescindível era conviver-se com este outro lado da vida, transpor
o portal que separa o mundo real, o mundo sofrido do lado de cá, do mundo
fantástico do lado de lá. O atravessar a tênue linha deste imaginário portal
sempre foi a melhor terapia que minh’alma encontrou para equilibrar o meu
caos interior.
Foi um intervalo muito longo o intervalo em que longe das letras eu
fiquei. Mas eu vislumbrava aquela luzinha, ao longe, sempre a brilhar,
sempre a me convocar.
E um dia, um colega, presidente da Cooperativa de Trabalho Médico
de Videira, fala-nos sobre um projeto literário que lá havia sido implantado.
Meus olhos brilharam. Meus nervos ouriçaram-se. Inveja? Claro que
sim, a santa inveja de fazer algo igual por aqui.
Era o Projeto “Encontro Marcado”, projeto que fervilhou e tomou
conta da cabeça de uma professora de Língua Portuguesa daquela cidade, a
Professora Lia Fausta Bonilla Colomé.
As linhas foram jogadas. Os contatos amadureceram. E o Projeto
“Encontro Marcado” em Canoinhas vicejou.
A finalidade deste projeto era o de entrosar o escritor catarinense e
os alunos do ensino médio das escolas estaduais de nosso estado.
A Professora Lia se encarregava de manter o contato com a
Academia Catarinense de Letras e, a cada ano, um de seus membros faria
um circuito pelas Cooperativas Médicas do estado. E, visitando as
Unimeds, ela se reunia com as professoras, repassando-lhes dados sobre o
escritor e suas obras.
Alguns livros do autor em foco eram escolhidos e adquiridos pelas
Unimeds que os doava às escolas participantes do projeto.
Eram envolvidos não só os professores de Língua Portuguesa, mas a
Escola como um todo, pois os alunos não apenas deveriam ler, como
dissecar e trabalhar em cima dos temas abordados nos diversos livros.
E, então, mais para o final do ano, em um dia especial o escritor
viria para um congraçamento com estudantes e professores.
A glória, a alegria de poder ter lido um livro e depois contar com a
presença do escritor a meu lado foi algo, para mim, impensável em meus
gloriosos dias de escola.
Os escritores eram, pela nossa distante geografia, naquele tempo,
pessoas inatingíveis que habitavam outras galáxias.
E agora, aqui estavam, tangíveis, tão perto, a trocar ideias, a
conversar com seus leitores.
Mas eu queria falar especialmente do dia em que o primeiro escritor,
Amilcar Neves, veio a nossa vila, a vila de Marcílio Dias, para o “Encontro
Marcado” com os alunos da Escola Básica “Manoel da Silva Quadros”.
E foi num dia de sol esplendente que Amilcar lá chegou com seu
indefectível e inesquecível boné.
Um dia pleno de belas coisas para contar.
Que em outro dia eu contarei.
Por Adaír Dittrich
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