quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Lembranças da Casa de Escamas

Depoimento de Nilse Prim Borges:

       "Meus avós maternos João Sckdlarek e Maria Drevnoska Sckdlarek vieram de Iratí, PR., pois foi nessa cidade que todos os poloneses vieram durante a 2ª guerra mundial.
Ele mudou-se para Marcílio Dias, onde foi trabalhar na estrada de ferro, trabalho esse muito suado com dormentes, cuidando dos trilhos de trem. Eram muito pobres, porém trabalhadores, e além disso trabalhava na roça para complementar o salário da família.
Tinham três filhos. A mais velha minha mãe, Clara Sckudlarek, meu tio Wando Sckudlarek e bem depois nasceu minha tia Alzira Sckudlarek.
Até aí moravam numa casinha pequena , mas assim que minha mãe atingiu uns 15 anos, começou a trabalhar na fábrica de parquet  Wiegando  Olsen, onde cortava aqueles tacos para assoalho.
Foi então com o meu avô trabalhando e minha mãe Clara Sckudalerk contribuindo com todo salário que ganhava, compraram aquela casa, a casa de escamas. Minha mãe contava que foi muito trabalhado para deixá-la mais bonita e do jeitinho que queriam.
Lembro tanto dela porque passei parte da minha infância ali. Eu fiz o jardim da infância naquela escola, com a professora Iracema, da qual nunca esquecerei. Lá aprendi a fazer meus primeiros bordados e eu tinha somente 6 anos.

Morei lá um ano da minha vida, meu pai estava construindo em Canoinhas e para pouparmos, meu avô fez questão que ficássemos lá.

Minha mãe saiu para casar com 18 anos com José Prim, meu pai. Eu tinha muito aconchego com meu avô, ao qual eu adorava e tinha a maior admiração. Aliás, meu avô era conhecido por João Barbeiro, pois foi à Curitiba, fez curso de corte de cabelo masculino e barbas com navalha.

Lembro como hoje, todos os fins de semana, a barbearia estava lotada, e eu sempre varrendo os cabelos do chão para ajudá-lo. Durante a semana ele trabalhava na Rede Ferroviária, aí já tinha sido promovido, passando em 2º lugar em SC.

Todas as minhas férias, tanto as de julho como as de dezembro a março, eram passadas ao lado dos meus avós e tios. Fui a primeira neta, recebi todo o amor do mundo,  tanto dos meus avós como dos meus tios.
Havia um porão que era a adega do meu avô. Ele fazia vinhos deliciosos com frutas do mesmo pomar. Fazia vinho de todas as frutas: uvas brancas, pretas... Ele colocava data em todas as garrafas. No porão ainda tem uma inscrição com data feita por ele.
Eu tinha um quarto no sótão, onde dormia ao lado da minha tia Alzira , mãe da Aurea e Edna Piermann. Era muitíssimo divertido, minha tia era pra cima, inventava brincadeira mil, assim como meu tio Wando, que na época, além de trabalhar na Rede Ferroviária, na Estação como telégrafo, era o fotógrafo de Marcílio Dias e também consertava relógios.
Lembro como se fosse hoje. Eu ficava ao lado dele vendo-o  fazer os consertos, e então ele me disse: Quer ter um relógio? Eu disse. Claro tio, eu quero. Na época eu ainda

não estava na escola e então ele me fez primeiro aprender a tabuada, pra somente então depois me dar um relógio. Quando entrei para a escola no Sagrado Coração de Jesus em Canoinhas, eu era a única menina que já sabia tabuada e também ver horas.
Outra influência do meu tio foi me incentivar a leitura e a boa música. Logo que eu atingi a idade de 9 anos fui estudar acordeon e posteriormente piano, com a professora Clara Sheneider, muito rigorosa.
Quando eu já sabia tocar, todos os nossos fins de semana que sempre foram naquela casa, regada a muita comida gostosa, piadas e muita diversão, eu comecei a tocar para a família.
Lembro que o terreno era muito grande, havia pomares com todos os tipos de frutas de cada época. Verduras, legumes, tudo era plantado lá pelo meu avô. Ainda lembro do cheirinho gostoso da casa, do chão brilhando, da dispensa lotada de guloseimas. Por isso não tem sido fácil pra mim, visitar aquele lugar, sabendo que hoje todos já não vivem mais. Minha irmã Eliane Regina Prim, Wilson Sckdlarek, Wilmar Sckdlarek também conviveram lá, mas não de forma tão presente como eu, que passava todas as férias. A Áurea e a Edna, brincaram muito por lá também fazendo peraltices.

Bem, vou para o finalmente, para onde não gostaria de ir. Com a morte da minha avó, meu avô entrou em depressão, e daí como o tio Wando já morava em Porto União, foi para lá morar com eles, mas antes disso,

resolveu fazer a partilha da casa. O pai da Áurea que morava anexo ao terreno da mesma, fez um acordo, onde ele compraria a nossa parte e ficaria com a casa.

Só que mal sabíamos que o pior aconteceria. O Euzébio Piermann, faleceu e minha tia entrou em depressão e, nessa época as meninas estudavam e trabalhavam em Joinville, porque Canoinhas era precário de trabalho. Minha tia Alzira Piermann acabou por vender a casa e foi morar com os filhos.

   Então fiquei muito feliz, quando eu soube que a casa seria tombada como patrimônio público, me dando a esperança que seria restaurada, conservada e contaria uma história de vida muito linda, onde o amor fluía de todos os lados. Eis a história de uma casa, da qual levarei na memória até a minha partida desse planeta!"
 


Foto da garagem da casa de meus avós onde fazíamos as festas está a Tia Alzira
e o tio Euzébio Piermann com o caçula Edson José Pirmann!! 


Da esquerda para a direita está minha tia Alzira Pirmann com tio Euzébio Pirmann,
Daí meu avô João Sckudlarek com minha avó Maria S., minha mãe Clara S. Prim com meu pai José Prim. de cócoras o tio Wando a maior eu e a Eliane Regina Prim em frente a igreja num dia de páscoa.
 
Casa adquirida pela família do João Barbeiro em 1946 aproximadamente.
Atuais proprietários da casa de escamas: Marcelo e Karla Pazda.


Neve em julho de 2013. Acervo dos atuais proprietários.

Um comentário:

  1. É uma história muito interessante com todos os detalhes. Meus avós também vieram da Polonia na época da guerra, portanto foi difícil para todos daquela época, onde não tinham as coisas que eles precisavam. Parabéns , linda história e casa também.

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