quinta-feira, 19 de março de 2015

Lembranças do passado

          Visitando o Túnel de General Osório

       Por dezoito anos seu Nelson de Paula Padilha trabalhou como ferroviário. Hoje com 60 anos, se emociona ao falar das lembranças daquela época. “Eu era conservador de linha em General Osório. Depois fui trabalhar em Mafra em 1978, como artífice de linha. Em 1982 voltei para General Osório onde fiquei por 13 anos, até o ramal fechar e eu ser transferido para a Estação do Canivete em 1995”, conta. Ele acompanhou nossa equipe até o Túnel de General Osório, para chegarmos lá, fomos até Três Barras, seguimos por uma estrada de chão por uns 20 km, deixamos o carro, e andamos uns 3 km entre as trilhas. A estação de General Osório foi aberta em 1938. O Túnel do ramal próximo à estação de General Osório, foi construído em 1912. A estação fica a 41 km Marcílio Dias, e até o Canivete 8 km, Sr. Padilha nos conta que de Trem esse trecho era feito em 1h20min. Quando ele trabalhava na ferrovia nesse trecho estava funcionando a locomotiva a diesel. Para ele a enchente de 1983 fez um estrago muito grande. “A água não chegou aos trilhos, mas houve desmoronamento. Nas duas saídas do túnel caíram barreiras. Enquanto eu estava tirando a terra, caiu mais uma barreira, eu não morri por sorte. A linha era de difícil acesso, não chegava máquinas, era tudo manual, serviço braçal. Trabalhavam aqui mais ou menos 40 homens. Em Canivete cobriu a linha uns dois metros”, recorda. O Túnel com 103 anos é de se admirar, como foi possível construí-lo sem a ajuda de máquinas, a beleza e a perfeição, fazem com que ele se misture ao local, fazendo parte da natureza. “O túnel tem 100 metros, foi feito tudo na picareta, meu avô conta que era para ele ter 150 metros, mas morreu gente na hora que estavam fazendo a construção, ele falava que tinha morrido seis pessoas, inclusive uma mãe dando de mamar ao filho, pois ela tinha levado a marmita ao esposo que trabalhava na obra. Meu avô trabalhava no traço da linha. O Túnel foi feito para que fosse economizado 18 km de linha”, lembra. O lugar era muito cuidado, tinha uma vila próxima ao local, tinha muitas pessoas que passavam por ali. Era muito perigoso estar no Túnel na hora que o Trem passava. “Uma vez um ciclista estava passando, ele não se machucou, mas a bicicleta estragou. Dentro do local tem uma vala para que os pedestres se escondessem, quando o trem estava passando”, explica. O mais difícil era quando tinha acidente. Uma vez, em 1986, teve o acidente no túnel, nove vagões de álcool cada um com 60 mil litros, ficaram desencarilhados no trecho do Túnel. “O trem não chegou a virar, ficou encostado no Túnel e o barranco que tinha ao lado. Foi muito difícil trabalhar, o cheiro do álcool era muito forte, doíam às vistas. Não chegou a vazar muito produto, mas era uma empreitada de risco. Durante uma semana trabalhamos nesse acidente. Levávamos em média 4 horas para liberarmos um vagão e mandarmos para a estação do Canivete. Trabalhou uns 40 homens nesse acidente. Não podia fumar nem esquentar marmita por uns 100 metros. Era feito sempre uma vistoria para saber se era falha no trilho ou no vagão. Foi descoberto que o problema foi em um dos vagões. Eu sempre estava com meu cão “Piri” de companhia, ele acabou bebendo o álcool que estava despejado no chão, achando que era água e ficou bêbado”, confessa. Sr. Nelson não esconde o amor pelo trem que atravessa gerações. O avô trabalhou no traço da linha em 1908, o pai Jeremias de Paula Padilha, fazia o empedramento da linha em Mafra em 1960. “Eu sou apaixonado pelo trem. Ele marcou minha vida, era o único meio de transporte que tínhamos na época”, explica. Para Nelson de Paula Padilha é muito triste ver o estado das linhas do trem. “A linha ficou abandonada, hoje não tem segurança nos trechos. Eu fico triste em ver o abandono. Aqui tinha o povoado, tinha casas. Nós plantávamos capim cidreira ao lado dos trilhos, era tudo muito bem cuidado. Hoje só vejo abandono." Desabafa.
Texto de Pollyana Martins

  A caminho do túnel.














 
Participaram da aventura: Leandro e Pollyana Martins, Carolina Carvalho,
 Fátima Santos e o casal Nelson e Nanci Padilha.

Na volta, Carolina, Nanci e Nelson que foi o guia do passeio.
 
 

2 comentários:

  1. Ê são João da Barra General Osório!!! Quanta saudade!!! Quanta tristeza pelo que foi feito com as terras de minha familia. Onde era as nossas terras hoje é tudo pinus. Hoje moro em são José dos Pinhais Parana. Mais a minha infância foi ai em São João da Barra e General Osório. Mafra SC.

    ResponderExcluir
  2. Quanta saudades né Padrinho Nelson Madrinha Nanci. 1 forte abraço a voces,até qualquer dia!!!

    ResponderExcluir