Há
62 anos Gentila Weinfürter começou a lecionar na escola pública de Capão do
Erval, no interior de Canoinhas. Estava com 17 anos. Como antigamente se dizia,
corria o ano da graça de 1956. Era o primeiro passo para uma promissora vida
dedicada ao magistério. Agora, aos 80 anos, a professora Gentila, depois casada
com Valdemiro José Holler, com satisfação recorda os tempos em que lecionar era
um verdadeiro sacerdócio. Naquela época, os afazeres de um professor de escola
rural não se restringiam a ensinar caligrafia e aritmética.
Três anos depois, em 1959, os moradores
da localidade de Parado decidiram construir uma escola. Quase sempre era assim.
Omisso, o poder público gostava de ganhar de mão beijada. Edificado o prédio em
madeira, Gentila foi convidada a trabalhar na nova escola. Nela ficou até obter
a aposentadoria. A primeira turma tinha 27 alunos. Nos primeiros tempos o
estabelecimento escolar tinha o nome de “Escola Estadual Bernardo Olsen”,
homenagem a um dos mais antigos proprietários do imóvel onde fora construído.
Além de ensinar múltiplas disciplinas na
escola multisseriada, a jovem professora também desempenhava as funções de
catequista e merendeira. A maioria dos estudantes era de origem germânica. Na
sala de aula, divididos nas quatro séries iniciais, estavam os Noernberg, os
Linzmeyer, os Hatsbach, os Kwitchal, os Goestmeyer, os Raphalski, os Zipperer, os
Steilein, tantos outros. Dona Gentila conta alguns dos novos estudantes
chegavam à escola sem falar uma palavra em português. Então também era preciso
alfabetizá-los no idioma nacional, o que só aumentava as dificuldades.
“Mas eles eram rápidos. Ao final do ano todos passavam nos exames, dominando o vocabulário sem grandes problemas,” disse. Ela também lembrou que anos mais tarde, quando começaram a aparecer as primeiras merendas industrializadas oferecidas pela governança, os estudantes mostraram resistência. Gostavam mesmo era da sopa produzida com legumes colhidos na horta escolar e do leite trazido de casa. Achocolatados e leite em pó, por exemplo, não agradavam.
Ainda em 1958 Gentila casou com
Valdemiro José Holler, trabalhador em uma serraria do lugar. Os retratos do
casamento foram produzidos no “Foto João”, de João Wunderlich. Enquanto
ensinava, atendia as atividades domésticas e cuidava dos primeiros filhos, ela
também encontrou tempo para estudar como normalista no Colégio Sagrado Coração
de Jesus, no centro de Canoinhas. Do casamento com Holler nasceram dez filhos. A
professora igualmente menciona que nos seus tempos de infância seu pai Mathias
Weinfürter era um dos operadores do projetor de filmes no “Cine Operário”, da
Sociedade Beneficente Operária.
Aposentada há 30 anos, a professora
Gentila gosta de falar a respeito da sua vida dedicada ao magistério. Olhando
as antigas fotos de seus alunos, é capaz de mencionar os nomes de quase todos.
Tem orgulho de dizer que muitos deles concluíram cursos superiores e até
fizeram doutorado, gozando de sólida reputação social.
O topônimo Parado
Indagada
sobre a origem do nome Parado, Gentila relatou que fez uma pesquisa com os mais
antigos habitantes da localidade. Pelo que deles ouviu, a versão mais corrente
é que no lugar, perto do rio do mesmo nome, havia um pouso, parador ou parada
de tropeiros. Daí o topônimo persistente.
Fernando Tokarski
Historiador
Casamento de Valdemiro e Gentila em 1958. |
Alunos da Escola Almirante Barroso. Gentila é 2ª da direita para à esquerda na 1ª fila. |
1960 |
Primeira Comunhão dos alunos da Escola do Parado. |
Primeira Comunhão na escola (não tinha igreja na época). Meninas: Isolde, Terezinha e Zilda Holler. Outros na foto: Sebastião e João e José Leite, Evandro Hatsbach. |
Marli Goestmayer, Isolde Holler e Zilda Hatsbach. Alunas da Escola do Parado premiadas em concurso. |
Gilberto e Érico Noernberg e Alfredo Goestmeyer. Alunos da Escola do Parado ganhadores de concurso. |
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