Canoinhense é reconhecido pelo Iphan como mestre oleiro da construção tradicional de Santa Catarina.
O que você faria com barro? Por quase um século, a família Gonchorovsky transformou a argila em fonte de renda. Os tijolos maciços fabricados pela olaria canoinhense têm quase cem anos de tradição. Aos 66 anos, Gilberto Gonchorovsky é um dos poucos que sabem converter o barro em tijolos de maneira artesanal. A atividade chegou a ser catalogada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) na obra “Mestres artífices”. Gilberto é reconhecido pelo instituto como mestre oleiro da construção tradicional de Santa Catarina, tornando Canoinhas referência nacional na área. E tal honraria para ele é sinônimo de orgulho: “eu me sinto vitorioso por ter feito um bom trabalho”.
O ofício está no sangue. O avô de Gilberto, Guilherme Gonchorovsky, veio da Europa para o Brasil e aqui montou sua olaria na rua que hoje leva o seu nome, entre o Alto da Tijuca e a localidade do Parado. Quando Waldomiro (um dos filhos de Guilherme) casou, um imóvel em Marcílio Dias foi adquirido para que ele pudesse dar continuidade à atividade. Waldomiro ainda vive e na metade de 2016 celebra 90 anos. Ele é pai de seis filhos. Dois deles deram continuidade à fabricação de tijolos: Gilberto e Herbest. Os dois fundaram a Cerâmica União e tocaram o empreendimento até quatro anos atrás.
Mesmo aposentado, Gilberto sonha em reabrir a olaria para fabricar artesanalmente tijolos maciços porque, segundo ele, o produto está em falta no mercado. “Esse tipo de tijolo se usa para fazer estufa de fumo, lareira, forno de barro”, conta.
No auge da produção, a olaria produzia 70 mil tijolos por mês – entre maciço, com seis, quatro e dois furos. Os artefatos dos Gonchorovsky chegaram a ser levados para construções no Amazonas. Dezenas de imóveis em Canoinhas e região foram erguidos com os tijolos da família que, por alguns anos, se especializou na fabricação de peças usadas na construção de estufas de fumo.
A fabricação de tijolos da família Gonchorovsky começou de forma artesanal. A argila era retirada de terras próprias. No início, era carregada à base da pá e cortadeira: “era carregado e descarregado ‘à muque’. O pai também tinha cavalo para ajudar a puxar o barro”, lembra. Cada tijolo leva um tipo de argila. O maciço é feito com o que ele chama de “barro gordo” e demorava 40 dias para ficar pronto. “Aqui tudo era simples e a gente trabalhava com o ‘barro gordo’, aquele que tem liga. A argila é natural e o tijolo sai mole da máquina de prensa. Deixa secar e depois vai para o forno e daí deixa queimar”, conta. Seu Gilberto diz que um bom tijolo é feito com “uma boa mistura de barro e depende de uma boa máquina para prensar”.
Com o passar dos anos, a tecnologia chegou também às olarias. Os Gonchorovsky têm no barracão uma máquina, desativada, importada da Itália que faz telhas. No Brasil existem duas: uma está em Canoinhas e a outra foi para Minas Gerais. “Ela pesa sete toneladas”, completa.
Outros tijolos não eram feitos artesanalmente. “Tinha o tijolo marombado que é feito com máquina à vácuo onde é extraído o ar do barro, aí faz a rigidez da massa. Aí você pode trabalhar só com ‘barro magro’ e não precisa do outro pra fazer liga. Os maciços são feitos no sistema antigo com mistura de ‘barro gordo’”. Este tijolo maciço, que Gilberto quer voltar a produzir, é fabricado para aguentar altas temperaturas.
Mudanças
O negócio da família foi afetado pelas mudanças na legislação, mas também pela alta carga tributária do país. A olaria precisou fazer registro junto ao Ministério de Minas e Energia para regularizar a extração de argila e também se adequar às leis ambientais. “A principal diferença da época do pai para a nossa são os custos e as exigências”, observa.
Gilberto e a esposa Raquel têm muitas histórias de outros tempos para contar. “Na época em que eu casei, e isso vai fazer 44 anos só, tudo era muito precário, mas naquela época ainda se ganhava dinheiro e antes de eu vir morar pra cá, eu lembro que ele contava que não tinha dinheiro no banco. Aqui tinha uma gaveta cheia de dinheiro”, recorda Raquel. “O governo leva tudo em forma de energia, que é muito cara. Na forma de impostos”, reclama Gilberto.
O melhor tempo que tiveram nos negócios, de acordo com oleiro, foi “na época dos militares”. “Por que ninguém tinha tempo para se meter na vida do outro. Cada um cuidava do seu serviço. Foi nesta época que eu consegui comprar três tratores, três caminhões, semeadeira e pulverizador porque nós plantava. A gente chegava no final do mês e tinha dinheiro”, justifica. A família plantava milho, feijão arroz. “O arroz era colhido à muque. Cortava com ferro, colocava pra secar e daí era passado na trilhadeira. E daí era vendido para o seu Lauro Gonçalves, Evaldo Pereira, para quem tinha engenho de arroz na época”, lembra.
Outros tempos
Na década de 60/70, Gilberto aplicava injeções nos doentes. Aprendeu a fazer e, quando casou, ensinou a esposa. Para ir à escola, não havia transporte público. Ele estudava no colégio dos Maristas e para lá ia à pé. Chegou a ter sua bicicleta que durou a infância toda. Gilberto foi músico. Tocou trombone na extinta Wiegando Olsen. Os shows eram feitos fora da cidade também: “a gente pegava o trem e ia para Valões [nome antigo de Irineópolis] para animar baile por lá”. Para se divertir, Gilberto ia a dois salões na localidade do Parado: no Hatschbach e de Henrique Goestemeier. “Começava 9h e ia até clarear o dia”, lembra.
E mesmo que novos capítulos sejam escritos pela família com o retorno da fabricação dos tijolos, as histórias vividas em outros tempos pelos Gonchorovsky continuarão repousando nas paredes de muitas construções por aí.
Gilberto, o mestre artífice da olaria.. |
Gilberto com a jornalista Priscila e o neto Gustavo. Antigo soprador utilizado para separar a palha do grão. |
Caçamba ano 1961. |
Gilberto com a esposa Raquel. |
Máquina de fazer telhas. Veio da Itália há mais de 80 anos. |
Forma pra fazer telha. |
Máquina de fazer telha pequena e mais moderna. |
Prensa para fazer goivas. |
Vídeo de 2012, filmado por Daniela Gonchorovsky na Cerâmica União em Marcílio Dias.
Belo documentário,dá pena de ver pelo interior fábricas e barracões abandonados,saudosa época em que todo mundo trabalhava e ninguém ficava aleijado,atualmente todo mundo só pensa em passar em concurso e se encostar em um emprego,não existe mais espírito empreendedor dos europeus,estamos ferrados ,ninguém mais quer pegar no pesado,não temos mais técnica para trabalhos manuais,tudo está se perdendo,não existe mais marceneiro,carpinteiro,ferreiro e outras profissões que exigem habilidade manual,todo mundo só quer ficar atras do computador digitando e planejando,precisa mudar tudo, talvez compense arrendar o brasil ,meio a meio para o Japão e ainda sairíamos no lucro,aqui leva dois anos para fazer uma ponte ou viaduto e na maioria das vezes o dinheiro some e nada se conclui enquanto no Japão se reconstrói uma cidade inteira,e não é culpa só dos políticos porque na grande maioria os brasileiros não prestam-são corruptos,desonestos,pilantras ,trapasseiros etc, é essa a imagem que conquistamos no Japão,EUA,Canadá,Inglaterra,Austrália etc,estou decepcionado !!!
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