sábado, 5 de agosto de 2017

O Nosso "Caxias"

Crônica escrita em 15 de agosto de 1964 pelo Deputado Aroldo Carvalho e publicada no Jornal Correio do Norte em 29 de agosto de 1964.

               O Nosso "Caxias"

Crônica de Aroldo Carvalho, gravada em Brasília e transmitida pela Rádio Canoinhas.
     
   O nosso Caxias está ameaçado de desaparecimento.
   Chamam-no assim os que imaginavam que o ramal ferroviário mandado construir pelo ministro Victor Konder, não teria o seu ponto final em Canoinhas, mas ganharia o interior, em busca do rumo da gaúcha "Caxias" dos bons vinhos.
    E que maravilhoso teria sido!
    Imaginemos a nossa Canoinhas  entroncamento ferroviário importante, sede do Batalhão Mauá! Centro de Progresso! Ô devaneios! Ô lindos sonhos!
    Mas, despertemos. Encaremos a realidade.
    Querem tirar-nos o ramal, sem a contrapartida estabelecida em lei, do asfaltamento de uma rodovia que o substitua.
     Em nome do progresso. A fim de evitar o "déficit". Como se a salvação do país estivesse no pequenino apêndice de quatro quilômetros, que liga nossa cidade aos trilhos da Rêde Viação Paraná-Santa Catarina.
     Conterrâneos vigilantes, dedicados servidores da Rêde, mandaram-me um telegrama. Orlando Gallotti, Angelino Ferreira, Cesário de Lima, José Bialek, José Veloso, Otacílio de Abreu e Francisco Schanton subscreveram o despacho, pedindo a intervenção do Deputado junto ao Ministro Juarez Távora.
      Anteriormente, Therézio e Garcindo, os vereadores haviam sugerido providências idênticas.
      Discursamos na Câmara.
      Formulamos requerimento de informações.
      Prestamos esclarecimentos.
      Batemos as portas dos gabinetes ministeriais.
      Fizemos quanto podia ser feito, no sentido de ser sustada a ordem de interrupção do tráfego.
      Custa-me acreditar que o ramal seja deficitário. Que dê prejuízos à Nação.
      Se é tão pequeno o trecho e se os funcionários são poucos se é muito e paga bom frete a madeira que se embarca em Canoinhas, se também o mate deixa boa renda por arroba carregada, como falar-se em prejuízo mensal?
      Ademais, toda ferrovia proporciona lucros pelo fato de facilitar a circulação da riqueza; de transportar o progresso; de aproximar populações.
      Não posso conhecer a minha Canoinhas sem o meu trenzinho.
      Então o esforço extraordinário de Osvaldo de Oliveira, de Otávio Rauen, de Benedito Carvalho, do "tio Siza" do João Seleme, de João Allage, do Dr. Cardoso, de Alfredo Mayer, José Pavão, Emiliano Seleme e de todos os seus companheiros que lutaram para conseguir o início das obras do ramal, desde os idos de 1926 já decorreram quase 40 anos ruirá por terra ante uma simples penada ministerial?
     Mas como acabar com o trenzinho integrado na vida da cidade, de serviços os mais relevantes? Traço de união entre Canoinhas e as cidades vizinhas. Ponte de ligação com o nosso interior.
    Através dos anos, os homens e as mulheres, as crianças, ricos e pobres, cidadãos de todas as condições sociais, atingiram a nossa cidade viajando no "Caxias", tirado pela "Maria Fumaça".
     Marcílio Dias, Taunay, o Taunay de nossa boa gente do interior. Paciência, Felipe Schmidt, Paula Pereira e Santa Leocádia, Três Barras e o Bugre, ficam mais próximos de Canoinhas pela ferrovia. Então há temporada chuvosa, e não há "alagado" que impeça a circulação do trem de ferro. Atrasa quando a lenha está verde ou molhada, mas sempre chega ao destino.
     Bendito trenzinho que tantos serviços prestou ao município e à nossa cidade!
     E a "festa" da chegada!
     O movimento da rua Felipe Schmidt!
     O alarido da garotada disputando as malas dos viajantes!
     Que dizer dos apitos. Silvos longos, tristes, traduzidos a dor do maquinista, as suas mágoas ou as suas despedidas. Ou então breves, festivos, anunciando à bem amada o regresso.
     Querem amputar da cidade que tem vida, que sente, que vibra, que cresce, um de seus membros, verdadeiro braço de aço que é!
     Nós longes da minha memória diviso um boné vermelho do Agente da Estação. Sob o boné revejo, no correr dos anos, diversas fisionomias amigas: desde Estefano kimack ao Joaquim de Paula, tão bom e acolhedor; desde o sorriso amigo de Epidio Borges até a simpatia do Angelino que recusa, brava e teimosamente, a fechar as portas da estação.
      Revejo, também, velhas figuras de ferroviários, de homens que dedicaram a vida à Rêde - uns vivos- outros falecidos. Cavalcanti, o maquinista pai do "Miquimba". Luiz Santos, Schivinski, "Chico Pezador" e tantos outros que serviram a cidade servindo à Rêde.
       Por favor, senhor Ministro.
       Se não puder fazer a Canoinhas nenhum bem, não nos faça mal.
       Deixe-nos o trenzinho, parte da vida da cidade!
     
Maria-fumaça 310 que fez a linha Marcílio Dias à Canoinhas.
Vejam outras imagens no blog www.canoinhasimagens.blogspot.com.br

Um comentário:

  1. O lobby das petrolíferas americanas sempre ganhou nesse país p detrimento da economia nacional.

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